06 dezembro 2011

Quis

Traçava linhas, rasurava as palavras, sentia frio... pois assim o tempo estava. Dedilhava as marcas em sua pele e era capaz de sentir na ponta dos dedos o relevo da alma. Buscava formas de conter o choro, cumprir as ultimas promessas, respeitar o silêncio que não havia sido imposto, mas que tinha ali, sido estabelecido. Rompia o silêncio do cômodo com o ranger dos dentes, e se fosse mesmo capaz de destruir com a força da mente, fulminaria o irritante tic-tac do objeto fixo à parede. Sentia raiva, sentia medo, sentia dor, sentia, sentia nela o que ele sentia, queimava nela o que nele ardia. Não respirava ele no cômodo em que estava, tragava ela um cigarro, em um canto qualquer da casa. Andou dê lá pra cá diversas vezes, postou-se na cama a esperar o sono e mais uma vez o tic-tac na parede. Ergueu os olhos e notou um esboço na parede, contornou ela com a ponta do dedo aquela imagem fria que para qualquer outro, seria apenas mais um borrão de sombra na parede, e entre ás lágrimas cortantes que brotavam de seus olhos e morreriam em seus lábios, foi capaz de sorrir. (e embora estivesse só, naquele momento não sentiu-se sozinha) A ponta de seu dedo, parou em um ponto fixo da sombra, projetou-se ali, a única coisa que era capaz de fazê-la esquecer a dor ainda que por pouco tempo, sentiu-se aliviada, acolhida, amparada, ainda entre lágrimas, terminou de dedilhar a silhueta na sombra. O sorriso dele num repente atravessou a escuridão, e esse se fez em sua própria face. Pensou ela naquele momento... (como posso deixar-te, se mesmo desta forma é capaz de fazer a felicidade brotar em mim? como posso não estar contigo, se nas horas em que mais preciso, estas comigo?) ...não queria mais ler o livro que passará a maior parte do tempo a consolá-la, não queria mais ouvir as tantas músicas que por tantas vezes a embalava, não queria mais pensar no que passou, no que ele fez, no que ela fez... ela só queria continuar ali com ele, calada, esperando que ele fosse capaz de ler nos olhos dela, aquele silêncio. Na verdade, ela queria não querer mais nada, ela não podia querer nada, mas  como sempre, ela queria sempre e sempre mais... ela não queria, ela o queria, queria como se nunca o tivesse tido, queria como se querer, não fosse uma forma de nostalgia, ela queria, ela quer, ela quererá pra sempre que nunca seja ela, um dia somente “quis” dele.
Por. Bell.B

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por partilhar comigo, o que você pensa!