31 agosto 2013

∞ Years



 Penúltima hora...
Sempre que lia sobre valores ou sobre só se dar conta da importância de algo depois de perdê-lo, sorria. Sorria movida a minha arrogância, a minha prepotência que insistia em lustrar o meu egocentrismo. Talvez por estar certa do que provocava, do que fazia sentir. Do que era estar de pé, em carne e osso diante de ti. Deus como fui tola, como demorei a me dar conta. Cá estou eu, deixando os dias me atravessarem, sentindo as horas me mutilarem, a mercê dos últimos segundos que restam de esperança. A esperança de ser resgatada, nos últimos milésimos antes que o agora seja de fato ontem. Há 22 dias atrás te escrevi, mas não tive coragem de enviar. Estava com raiva, fiz cobranças, vomitei minha amargura, minha saudade, minha ira nas palavras. Nem sei porque fiz isso, ou sei. Não sei mais o que ou como dizer, não encontro mais as formas certas de ir, de procurar, de chegar perto de você. E antes que eu me atire de vez no mais profundo poço de amarguras e arrependimentos, vou tentar mais uma vez, só mais uma vez me aproximar de você. Mas confesso, estou com medo, Não! Estou desesperada... Logo eu, quem diria a mulher-maravilha. A força em pessoa, aqui... Ressabiada, duvidosa, atirada, jogada, a espera de quem tanto esperou e nunca recebeu nada.

Última hora...
Tenho buscado por lembranças das quais quando momentos não me causaram tamanho efeito como o impacto que tomaram agora. Todas as letras e canções, todas sem exceção, ecoam, parecem acertar minha cara como num tapa de raiva a fim de me fazer enxergar, te enxergar. Como foi que não vi? Porque diabos não te enxerguei como te vejo neste agora? As fotos acumuladas nas caixas, os versos presos nas folhas, uma mensagem salva na caixa de voz (puta que pariu, que nó me deu na garganta)... Com a sua voz dizendo o quanto me ama. O quanto me amou naquele tempo, bons tempos. Pergunto-me agora, o que é que meus ouvidos escutavam naquele época, que não captaram seu tom, em que peito batia meu coração, que não no meu? Como é que aquele som rouco e tremulo das suas cordas vocais não timbraram em minha alma a tua, ao me confessar amor? Tão ingênua, tão imatura, tão ridiculamente infantil que fui, e medrosa também. Era medo, era mais medo que amor. Agora tudo que sinto rompeu o silencio, atravessou o meu peito, rasga tudo aqui dentro. Te escrevi/te escrevo... Canto confesso, quase que imploro tropeçando de desespero nas palavras, nas linhas, pra que me sinta, que volte que me note. Pois a remota suspeita de ter virado lembrança me faz desmoronar. Me faz falecer, não me permite continuar. E caso não venha, não responda, não se importe, não o culpo, não o julgo, não o condenarei. Fui eu quem querendo ou não cooperei com esta situação.

Penúltimos minutos...
Eu vou enviar, vou contar a você o que sinto. Não porque preciso me aliviar desta sensação sufocante, mas porque depois de tudo que te fiz passar, é digno de minha parte confessar-te o que estou passando/sentindo por você. Talvez seja o mínimo a fazer agora. Não tenho muito tempo, o tique taque do relógio me consome a cada segundo passado, seguro a agonia como quem dedilha uma navalha afiada prestes a cometer suicídio. Prestes a cessar a dor. As horas passaram me arrastaram nada de você. Eu preparei o jantar na esperança de que aparecesse, coloquei a nossa música pra me confortar até que entrasse por aquela porta e sem me dizer uma palavra, confessasse com o olhar que estava de volta. As velas foram consumidas pela chama, a comida encontra-se mais fria que a sobremesa, a música repete incansavelmente ao fundo e... Você não apareceu, sequer deu sinal de vida.

Último segundos...
Eu te amei te amei mais do que fui capaz de mostrar ou dizer quando veio me ver. Eu te amei tanto, mas tanto, que não tive coragem de encarar esse amor de frente. Não fui capaz de enfrentar o mundo, como fez por mim. Não fui capaz de ir até você, como por 3 vezes veio a mim. Sou fraca... Não tenho mais forças, seu amor me sustentava por nós dois e talvez por isso não tenha dado em nada. Não tenho mais nada, nada além das canções, dos livros, dos filmes. Não sobrou nada! Nada além do seu desenho cravado em minha carne, nada além da nossa canção riscada pesando em meu ombro. Nada além do som da sua voz e dos acordes desafinados do seu violão ecoando as primeiras canções que me deu em tantas belas madrugadas. Não sobrou mais nada além da lembrança dos teus olhos quase negros certos do que queriam, mirados aos meus apavorados sem saber como esconder o que de fato eu não queria deixar transparecer. Não tenho mais nada, fora as datas, esta data. Nossa data. É tão estranho comemorar 8 anos sozinha com você... Acabou, acabou o nós. Mas eu continuo com você. Aqui, em mim. Pra sempre. Não consigo te esquecer, não posso. Não dá! Não vou... Nunca fui! Não sem você. E me dói tanto saber, só saber agora, que depois de ter perdido tudo, de não ter mais nada, ainda assim, mesmo sem te ter, o melhor de mim era/é, foi/será/está com/em você!
Por. Bell.B

30 agosto 2013

Sou...

Eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigênio das obrigações, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguém espera e salva uma noite, que estraga uma semana só pelo prazer de ser má e tirar as correntes da cobrança do meu peito. Que acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plástico, meia bomba. E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aí, maldizendo a tudo e a todos. Eu só queria ser legal, ser boa, ser leve. Mas dá realmente pra ser assim?
Por. Tati Bernardi

Quer Mesmo?


Quer? Então pega. Pega por inteiro. Minha parte boa, minha parte chata, minha parte cinza-chumbo. Crise de tpm, crise existencial, crise de riso, crise de choro. Não queira só um lado ou só algumas partes. Se quer (quer mesmo?), queira tudo. Completa e complicada. Simples e confusa. Dramática e exagerada. Não gosto de partes, gosto da coisa inteira. Metades não me agradam. Não me atraem. Não me satisfazem. Se eu te quero, quero 100%. Inteirinho. Com teu lado cretino e bonzinho. Com teu jeito arrogante e descontrolado. Tua doçura e acidez. Não me vem com mais ou menos. Nem vem. Nem, nem. Comigo é tudo ou nada. Mesmo. Quer?

Por. Clarisse Corrêa

Solidão



A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.
Por. Vinicius de Moraes

17 agosto 2013

Desejos do Coração


O pé acelerava sem parar, os faróis da pista lateral, pareciam querer cegá-la. Como se isso fosse possível... Já estava cega de raiva. Em menos de 2hrs estava em casa. Mas a sensação que tinha, era de que sequer havia saído de lá. Seu peito estava tão apertado, só não mais que seus olhos, exprimidos pelo inchaço de tanto chorar. A tensão em suas mãos era tamanha, que mal conseguia segurar a chave para encaixá-la na fechadura. Entrou pisando firme, falando alto, como se fosse possível ele escutar. Estava completamente fora de si. Na verdade, seu corpo voltou com seus impulsos e reflexos nervosos, mas a sua alma, ficou onde tinha que ficar... Ficou lá! Atirou-se na cama, ainda esta em prantos, sentindo coisas que sequer sabia ao certo explicar, apertou os olhos, fez uma breve oração e antes de finalizar... Desejou nunca mais acordar, mas foi em vão. Não conseguia dormir. E entre um cochilo e outro, tentava desligar a sua mente, acalmar seu coração. Os minutos iam se tornando horas, a Lua já estava quase perdendo o brilho lá fora, e ela ainda não tinha conseguido parar de chorar, de lembrar. De ter flashes com ele. E sua raiva maior, era porque de fato, queria sentir raiva ao se lembrar, mas o único sentimento que brotava em seu peito era a vontade de com ele estar. Aquilo começou a incomodar. Afinal, foi até ele pra chegaram a um acordo e voltará ainda mais assoberbada. Não conseguirá resolver absolutamente nada. Estava conflitando entre razões e emoções quando o visor do seu celular acendeu. Ignorou o primeiro alerta, mas quando o bip soou pela oitava vez, seu coração pareceu parar. Sentou-se num pulo na beira da cama e apertou os olhos na direção do aparelho. Seu pensamento era de que entrasse mais uma mensagem, só assim teria certeza de que não seria ele tentando se explicar, se justificar, avisando que estava já na rua dela, enfim... Mas seu coração desejou em silêncio que não mais chegasse mensagem alguma... (Uma vez ouvirá que os desejos vindos do coração, são atendidos instantaneamente por Deus) E foi naquela noite, a exatas 02h49min AM que ela teve certeza sobre a tal lenda dos “desejos do coração”. Ela se levantou na ponta dos pés, curvou-se em cima do criado mudo, e encarou o visor que acusava 8 mensagens. Lentamente foi esticando a mão para cima do aparelho, e tremia tanto, que parecia estar fazendo 0 graus dentro do quarto. Os olhos não marejaram, romperam como uma comporta após um diluvio... Com o celular e seu coração nas mãos, de vagar foi recostando nos pés da cama, e sentada no tapete, abriu a primeira mensagem.

02:37
Sei que ta tarde... mas preciso falar, antes que exploda rs 

02:38
Queria que nosso universo fosse possível... se fosse, 
agora eu pegaria a moto e invadiria seu ap...

02:39
... depois ai te ouvir me xingar de tudo que é nome, e eu aceitaria, porque mereci... 
Ai eu me ajoelharia na sua frente e pediria perdão. 

02:40
Se tu falasse que iria pensar, eu iria aceitar... mas eu iria ficar perto,
 iria pedir o sofá da Pipoca emprestado, pra não ficar longe.

02:41
Porque por você (seja onde for) eu me sinto capaz de tudo... menos ficar sem você.

02:43
Porque, presta atenção: Sei que tá sem crédito, mas eu nem ligo, porque eu te amo 
"... na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza"

02:45
De verdade, por e pra ficar com você, eu aceitaria tudo. Desde trabalhar de gari até tolerar a fumaça desse troço que você fuma ai e que vem do paraguai.

02:49
Só pra fechar. Se acordou com as sms, desculpa... Agora pode voltar a dormir, mas agora pode dormir sabendo que é amada por um menino loiro que faria qualquer coisa pra poder ter contigo aqueles sonhos meio "bobinhos" de casar, se matar de trabalhar o ano inteiro pra viajar... essas coisas, com você pra mim seria muito e tanto Bell, eu te amo, muito e tanto, tanto e muito e forevermente mais e mais.

 Estava na ultima linha, da ultima mensagem, quando sua ultima lágrima acariciou sua face. Ficou agarrada aquele aparelho como se ele fosse a "cura de uma doença terminal", quando conseguiu retomar o controle de si, já era dia. Não lhe restava dúvidas, um leve sorriso surgiu tão tímido quanto o sol que se esgueirava do lado de fora. Foi até a cozinha, fez um café bem forte, apanhou papel e caneta e o respondeu...

Por. Bell.B

13 agosto 2013

Sexto Sentido



Haviam se passado algumas semanas, desde seu último impulso violento e suas emoções descontroladas. Ainda era inverno, mas devido ao El Niño o a noite estava muito parecida com a que ela adorava e automaticamente, aquele clima a deixava mais leve, mais empolgada, mas motivada... Tinha terminado quase todos seus afazeres, ainda era cedo pra voltar pra casa. Pensou em ir ao Bar, mas segundos depois desta ideia passar por sua mente, sorriu levando a mão contra a testa.  Lembrou-se dos efeitos colaterais que surtiram em sua cabeça já não muito ordenada e rapidamente desistiu. Na verdade, a ideia do Bar só veio camuflar a vontade de ir até ele. Já que ficava no meio do caminho. E estando na metade, rapidamente poderia usar a desculpa de ter sido levada até ele, por obra do destino. O que claro... Não o convenceria. Ele a conhecia de dentro da fora, de trás pra frente, e certamente saberia o porquê dela estar ali, antes que desse qualquer outra justificativa.  Mas a ideia de ir até a metade do caminho e ou até ele, a inquietou pelo resto da tarde. Não tinha mais nada pra fazer e tinha tanto pra descobrir sobre o que viu, que ao chegar em casa, tomou um banho bem demorado e assim que se trocou decidiu. Iria até ele, afinal, estava controlada emocionalmente, tinha condições de ter com ele, uma conversa saudável, sem aqueles ataques frenéticos e infantis aonde ela falava compulsivamente sem parar aos berros, quase que sendo asfixiada por falta de pausas entre uma palavra e outra para respirar.  Foi até seu closet, escolheu algo casual e certa de que aquele encontro seria decisivo para a relação futura dos dois saio... (Saio focada, contando várias vezes até dez tentando não se lembrar do que tinha visto e sentindo lá, não queria que suas suposições a fizesse perder novamente o controle. Queria mesmo resolver tudo.) Precisava resolver. Durante todo o percurso, fez questão de puxar na memória todos os momentos maravilhosos que viveram (na verdade, isso não era difícil, embora tivessem tido algumas brigas calorosas, quase tudo que vivera com ele, era muito parecido ao dito “mar de rosas”), não queria chegar lá armada de mágoas, como uma ex chata ou vingativa, até porque, não se sentia como uma (EX), eles sequer haviam chego a um veredicto. Enfim, pode avistar a placa da cidade, esta saudava os visitantes, e assim que passou por ela, seu coração começou a bater mais apressado. Parou o carro no acostamento e entre enviar um sms e ligar, digitou o corpo da mensagem (a placa diz bem vinda, será que serei mesmo bem vinda?) e apertou enviar. Esperou alguns minutos, mas a resposta não veio. Então continuou o caminho. A ausência da resposta dele, a deixou ainda mais inquieta, fora por água a baixo todo o trabalho psicológico que havia posto em pratica até aquele momento. A respiração estava cada vez mais ofegante e segurava o volante com tamanha força, que por pouco não conseguiu arrancá-lo da caixa de direção. Já estava a algumas quadras da rua dele, e avistou um bar. Decidiu então dar uma parada, precisava beber alguma coisa e se recompor antes de reencontrá-lo. Queria parecer calma, indiferente, racional. Assim que entrou, fez sinal e logo uma garçonete veio atendê-la. Pediu uma Coca-Cola, não queria estar sobre efeito de álcool, queria se lembrar de tudo com clareza, e depois da sua ultima experiência, sabia que definitivamente, bebida alcoólica não a permitia raciocinar. Enquanto tomava o refrigerante, fez uma breve avaliação do lugar. Escuro, enigmático, com uma decoração nada atual, e embora não tivesse muitas pessoas, o curioso é que, contudo era acolhedor. A conclusão final dela, é que aquele era um lugar bem “Retro”, nada a ver com o estilo dela, mas tinha muito a ver com a personalidade dele. Essa comparação à fez sorrir de leve, mas antes que seu sorriso se estendesse pela face, visualizou um cartaz no fundo do palco. Apertou os olhos como quem avalia drasticamente e voltando-se para o balconista, logo perguntou de quem se tratava. Descobriu que era uma cantora e que há algumas semanas estava se apresentando ali. Aquilo pareceu cortá-la ao meio. Intuitivamente, associo aquele perfil do Banner à silhueta que havia visto na casa dele noites atrás.  E embora não tivesse ouvido com clareza a voz dela, comparando com a voz (doce, calma, pausada) de uma cantora, só podia de fato ser ela. Seu sexto sentido lhe dava essa certeza. Pagou e saiu.

Em menos de 10 minutos estava na porta dele, saiu do carro batendo a porta e dizendo a si mesma (controle-se). Assim que chegou à porta, não tocou, foi direto a porta e ao virar a maçaneta se deu conta de que estava trancada. Contornou a lateral da casa, e olhando pelo vitral da garagem, notou que a moto estava lá. Enviou outro sms avisando que estava na porta, quem sabe este ele responderia. Alguns minutos se passaram e ele também não respondeu. Começou a ficar aflita, milhões de coisas começaram a passar por sua cabeça. (Aonde teria ido? Estaria dormindo? Estaria bem? Estaria com ela?) Não conseguiu se segurar e desta vez ligou. Assim que ele atendeu ela fez uma pausa pra não falar bobagens, mas antes que pudesse dizer um simples “olá” sua concentração foi interrompida por uma canção ao fundo e segundos depois a ligação caiu. Seu coração veio na boca. Estava indo em direção ao carro quando o celular tocou. Era ele... Respirou fundo, e atendeu tentando manter o controle. Perguntou a ele, onde estava ele disse que na praia, convidou-a a ir até lá, mas na atual conjuntura, é claro que ela não iria. Estava quase arrependida de estar ali, que dirá ir encontra-lo. Discutiram brevemente sobre poder ou não esperar, até que ela deu a ele 10 minutos. Se ele não estivesse ali no prazo dado, ela iria embora pra nunca mais voltar. Aqueles 10 minutos pareciam serem mais longos do que o tempo que ela levou da casa dela até lá. Sua cabeça estava a mil, ainda mais agora que suas suspeitas deixaram de serem somente suposições e passaram a ser certeza. Estava com tanta raiva, que a vontade era de atear fogo na casa dele toda. Respirou, inspirou, e quando estava prestes a se deixar romper em lágrimas, o viu apontar no fim da rua. Rapidamente apanhou o celular para chegar o tempo. (Em tempo) Assim que ele chegou, ela se preparou para ouvi-lo já imaginando o que provavelmente ele diria. Também já tinha ensaiado todas as respostas, mas antes mesmo que ele começasse a se justificar, ela num impulso meteu-lhe um tapa no rosto. E antes que qualquer sentimento de culpa a invadisse, e a fizesse se desculpar, ela o puxou pela camisa, levando seus lábios aos dele, a fim de silenciar qualquer fala, qualquer justificativa. Se perdeu no tempo que seus lábios ficaram selados, embriagou-se da saliva dele com tanta sede, que se fosse capaz, sugaria toda a água do corpo dele. Embora tivesse milhões perguntas pra fazer, tivesse ido até lé pra resolver, foi rendida pela saudade, pelo calor, pela necessidade que tinha de senti-lo nela. Aquele beijo tinha um misto de sabores, mas assim que seus lábios se afastaram, um sobressaiu sobre eles. Curiosamente este, tinha sabor de Adeus. Ela abriu os olhos, se afastou de vagar, a Lua estava Cheia e linda atrás dele. Ela o encarou por alguns instantes, engoliu o choro e levou a mão levemente sobre a pele avermelhada em seus rosto e acariciou como um pedido de desculpa talvez, uma forma menos hostil de demonstrar o quanto ainda ele lhe era importante. Quem sabe? Quando seus lábios simularam falar, quando finalmente ela iria perguntar a ele sobre com quem ele esteve/estava, o celular dele tocou. Ele sequer tirou o aparelho do bolso, mas devido à hora ela imaginou quem era. Enquanto dava alguns passos para trás, seus olhos romperam em lágrimas, ele continuou ali parado, imóvel, olhando pra ela. Ela parou na frente do carro, e num tom muito baixo quase que em sussurros falou... “eu te amo, pra sempre vou amar você”. Abriu a porta e sem olhar pra ele entrou no carro, deu a partida e saiu. Mais uma vez não conseguirá resolver nada, o que acontecia com eles, entre eles, que não os permitia nem irem nem ficarem juntos? Aquilo à estava enlouquecendo. Fez todo o caminho de volta com uma das mãos nos lábios, ora e outra os contornava e num repente ele diante dela se projetava. Loucura, amor, obsessão. Que diabos de sensações eram aquelas? Mas de uma coisa estava certa, com ou sem ele... era ele, o homem da vida dela.
Por Bell.B

07 agosto 2013

Não era Capitu


Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva boias. E se ela se afogar, se recupera. Estranho é que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é? A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? A moça… Ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
 Por. Caio Fernando de Abreu

01 agosto 2013

Ressaca



As imagens se distorciam a sua frente, ouvia barulhos estranhos que se misturavam ao som de vozes aos milhares. Uma música tocava ao fundo, bem de longe. Como naqueles filmes, quando a “mocinha” esta resgatando memórias. Sentiu o chão abaixo de seus pés tremerem e em seguida, seu corpo todo parecia estar em convulsão. A música ao fundo foi ficando mais alta mais evidente. Alguma coisa em seu bolso começou a vibrar, tateou o casaco e no meio do caos em que se encontrava, apanhou o celular. Quando olhou o visor, tudo a sua volta pareceu congelar. Sem atender e sem nem saber por que, atirou o aparelho contra o chão. As pessoas começaram a correr, os carros buzinavam sem parar, mas ela continuava ali, paralisada, imóvel. Outra vez, algo vibrou em seu bolso. Desta vez, tateou mais devagar. (Um dejá-vù? Uma ilusão?) Quando olhou na palma da mão, lá estava ele... (celular) Incrédula, confusa, a ponto de surtar, o apertou com tamanha força entre os dedos, que o sentiu estalar. Gritou tão alto que todos a sua volta, pararam para olhar. Repentinamente uma agulhada fisgou em sua fronte. E tamanha foi à dor, que precisou se abaixar. Outra vez a “tal canção” começou a tocar, mas agora, parecia ecoar dentro de sua cabeça. Apertou os olhos com toda força que pode e pediu a Deus que tudo aquilo parasse, antes que ela não pudesse suportar. Assim que terminou as suplicas, foi abrindo os olhos bem devagar...

O silêncio só não era total, porque alguma coisa parecia zunir dentro de seus ouvidos. (Fez força para se encontrar, como teria ido parar ali? Onde teria ido parar as pessoas, os gritos, os tremores?) Quando foi tentar virar a cabeça, sentiu o estômago revirar, a agulhada apertou e estendeu por todo seio da face. Levou as mãos contra o rosto afim de fazer aquela sensação horrível parar. (o que diabos estava acontecendo?) Outra vez a “canção” e agora ela vinha junto com as vibrações. Virou-se de bruços, tateando embaixo do travesseiro. (foi ai que se deu conta... tinha acabado de ter um pesadelo) Puxou o aparelho para perto dos olhos (12 ligações, 3 mensagens... sorriu de leve e um tanto quanto aliviada). Jogou-o novamente de canto sem se importar com quem ligava. E mesmo com a cabeça latejando e uma enorme vontade de vomitar, riu de si mesma quando assimilou o “toque do celular” com a “música de fundo do sonho maluco”. Sentou-se na beira da cama, notou que ainda vestia as roupas da noite anterior. Chegará tão “chapada” da “noitada” que não conseguiu nem banho tomar. Olhou para o relógio e há muito, já havia se passado a hora de se levantar. “Foda-se” pensou, definitivamente não ligaria, não se justificaria, não hoje. Estava literalmente detonada. Tanto física quanto emocionalmente falando. Levantou-se e foi para o banho.

Deixou a água escorrer por vários minutos, ora e outra, erguia o rosto, afim de que a água levasse para o ralo seu mau humor, seu mal estar, suas dores. Enquanto isso fazia força para se lembrar de tudo que exatamente tinha acontecido. Alguns fleches se projetaram no vidro do box esfumaçado pelo vapor. (ela apanhando as chaves e saindo, a silhueta, a conversa... o ataque dentro do carro, o bar, alguém a observando, as doses...) Impulsivamente, arrastou a mão sobre o vidro, como quem tenta dissipar fumaças no ar, e isso a fez reparar nas mãos. (Olhou para as marcas) Sentiu-se ridícula. E ainda mais ridícula por ter ido encher a cara. Essa não era uma atitude dela (encher a cara), o que teria feito agir de forma tão imatura? Como uma mulher centrada, racional, madura como ela, pode na altura dos seus 32 anos, fazer o que nunca fizera quando lhe era fácil justificar. Tomar um porre ou outro aos 18 ”vá lá”. Chegar alterada, rindo a toa, beijando até o porteiro aos 20 é de se esperar. Quebrar o retrovisor, picotar as roupas, queimar as cartas do namorado aos 25 anos é normal. Mas aos 32 era meio difícil de aceitar. Por fim, saio do banho, decidiu que não sairia de casa por nada, nem por cargas d’água. Apanhou o celular, desligou. Puxou o fio do telefone da parede. Vestiu um dos seus pijamas mais surrados, comeu alguma coisa pra sustentar os remédios para “enxaqueca e náuseas” antes que de fato tivesse que correr para o vaso sanitário e vomitar. Acendeu um cigarro, colocou algo leve pra tocar e se atirou na cama. Precisa repousar, precisava se entender, se reorganizar. Precisava ficar ali sozinha, isolada... Só por hoje e deixar a ressaca passar.
Por. Bell.B