Tanta coisa havia mudado nela, com ela. É certo dizer que algumas coisas
permaneciam intactas mas por algum motivo, outras tinham adormecido. O tempo se
estendia, o espaço foi ficando cada vez mais
"espaçoso". A
correria a obrigava deixar de lado as vontades que vinham vez ou outra de
querer saber, procurar, entender o que de fato tinha acontecido entre eles. Mas
infelizmente não estava tendo tempo. Depois daquela viagem, as coisas tomaram
rumos completamente diferentes do que estava acostumada. Voltou mudada,
diferente, mas por consequência, tudo a sua volta também mudou. Precisou se
impor mais, mostrar mais autoridade, teve que provar que não era mais uma
garotinha. Nunca fora... Mas de alguma maneira a viam assim, e ela estava
trabalhando arduamente para mudar isso. E por isso, muito de tudo que amava
fazer, foi ficando de lado.
Seus livros estavam totalmente empoeirados, não terminará de ler o último
que havia começado há 3 meses atrás. Ler era uma de suas paixões e um livro
como aquele, ela teria terminado em duas semanas no máximo
(não terminou).
O computador passava a maior parte do tempo desligado, estava sem internet,
então não tinha porque ligá-lo. Coisa raríssima de acontecer. O mundo virtual
era realmente real pra ela. E ficar sem isso, era complicado demais, até
porque,
a primeira coisa que fazia quando acordava era ligar o pc antes
mesmo de escovar os dentes. Também não tinha tempo para escutar música. Só
ouvia nos finais de semana e nem sempre eram as que gostava de ouvir, devido a
correria, só escutava nas festinhas ou reuniões de amigos e família que inevitavelmente
não podia recusar, embora em muitas delas nem quisesse ir.
(essa situação
estava acabando com ela, mas ela não tinha opção). Outra coisa que a estava
consumindo era à abstinência de escrever.
(Deus! Como isso a ajudava a
esquecer, como isso a ajudava em seu dia a dia) Tinha vários textos
prontos, mas cadê a
porra do tempo para deixá-la revisar e postar
tudo? Não tinha! E como era detalhista ou chata demais com seus
"rabiscos"
ia deixando pra lá, até sobrar um tempinho, até estar tudo tranquilo pra que
pudesse sentar e contar ao mundo o que se passava dentro/com ela.
As noites continuavam longas, as horas voavam e quando se dava conta, outra
semana tinha morrido pra nascer um mês novo. Quase todas as noites, antes de
cair na tortura do travesseiro, que parecia ter milhares de espinhos assim como
sua cama. Apoiava os cotovelos na janela, e fumava seu cigarro observando ao
longe os faróis dos carros indo e vindo, enquanto ouvia a noite gritar em silêncio entre o
vento atrevido que bagunçava não só os seus cabelos como também seus
pensamentos. Mesmo não sabendo nada do que estava acontecendo com ele, quando
olhava pra lua, tinha certeza de que estava tudo bem. Aquele
"bem"
na medida do possível, que possivelmente não era tão bem assim. E nesta hora
apanhava o celular, e via a última mensagem que receberá dele, embora não
merecesse ter recebido mensagem alguma.
"será que ainda se lembra de mim..."
Já havia alguns dias que tinha recebido aquela mensagem, e na exata hora em
que entrou, ela olhava a lua pensando nele. Desejando que estivesse bem,
tranquilo, feliz. Também sabia que ele não estaria bem, nem tranquilo e nem
feliz. Assim como ela, ele não sabia de nada e certamente também procurava
entender o que de fato os tinha afastado daquela forma. Sentiu-se mal com a
mensagem. Ele perguntará a ela, o que ela se perguntou várias vezes morrendo de
medo de saber.
"será que ele se lembra de mim?" A resposta
dela chegará de imediato, mas como faria para responder a ele? Estava sem
internet, sem créditos. Sem forças para pedir a Deus um milagre. Talvez sem
graça de pedir a Deus por esse milagre, já que poderia resolver estes problemas
pequenos por si só. A raiva e a tristeza se faziam maior, porque de fato ela
estava fazendo exatamente isso. Correndo contra o tempo, lutando como nunca
para reorganizar sua vida. Estava tão carregada, tão sobrecarregada que se
entrasse em contato com ele, talvez ficasse mais aliviada, mas jogaria nele,
toda essa carga. E não seria justo. Não com ele.
Todas as noites conversava com a lua, era a maneira que tinha de enviar a
ele suas entrelinhas. Imaginava com tanta concentração suas mensagens, que era
capaz de ouvi-lo responder. Mas mesmo assim, isso não era o bastante. Precisava
de mais, então pela manhã, apelava para as nuvens e ora e outra soprava com
força em direção ao Céu enquanto seu coração dizia em silêncio
"não me
esqueça...". E assim foram seus dias, que viraram semanas, que
se tornaram meses. Passou a semana resolvendo seus problemas, pagou inúmeras
contas e a primeira coisa que fez ao chegar em casa foi ligar o PC. NADA!
Invocada, tomou um dos seus
"coloridinhos" (estava cansada demais
para duelar com seu travesseiro naquela noite) e se atirou na cama. Acabou
acordando de madrugada e como percebeu que não dormiria mais, ligou o PC. E
desta vez a conexão foi aceita. A primeira coisa que fez foi ir até ele. E por
milagre, ou por magica, ou por destino... Ele estava lá, a poucos minutos de
distancia dela. E ela leu cada linha uma, duas, três vezes. Leu a quarta por
detestar o impar, mas talvez tenha lido por só querê-lo mais perto, mais dentro
de si. Outra vez se sentiu mal, ele estava ali, sofrendo também, tanto quanto
ela, sem entender, sem saber, mas com a certeza de que realmente entre eles,
não importava por quanto tempo a falta ou a ausência permanecesse, não
importava por quantos dias, semanas ou meses o silêncio imperasse, nada nem
ninguém poderia separá-los. Eles se pertenciam numa sintonia fina entre o Céu e
as Nuvens. Eles estavam em sincronia eterna como a Noite e a Lua. Eles estavam um
com outro como o Relógio e seu Tic-Tac irritante. Eles não eram como
Khronos
(quando o tempo pode ser medido) ou como
Kairôs (onde há um momento
indeterminado de tempo) eles eram como Aion o tempo sagrado e eterno,
sem uma medida precisa. Eram fortes, eram grandes, eram como o Tempo a
abrir uma bocarra enorme do Agora e devorar a Rocha enorme da saudade de Ontem.
Por. Bell.B