Lembro-me como se
fosse ontem, o exato momento em que decidi findar tudo entre nós e começar em
mim, o que nunca mais teria fim. Acreditava que aquela seria a forma mais
sensata de sanar, de fazer parar, de estancar. Estava errada. Nem por um
momento, desde aquela maldita noite, findou. Sanou, deixou de latejar...
Recordo dos nossos momentos como se jamais tivessem sido
vividos além dos meus sonhos. A sensação
que tenho é de que esses fleches, são cenas de algum filme que assisti, de algo
que li ou mesmo parte de uma canção que ouvi e me apeguei por carência na tua
ausência. Éramos tão perfeitos juntos que muitas vezes eu acreditava que tudo
que acontecia entre nós estava ensaiado. Como num enredo perfeito, um roteiro
meticulosamente escrito. Tudo em mim (co)respondia a você. Todos os meus
sentidos eram atraídos pelos teus instintos como se fossem misseis teleguiados.
Estar com você, fosse como fosse, era como passar o dia no parque de diversões
ou como extravasar o estresse num bom drink e uma pista de dança até os pés
implorarem por repouso . Era maravilhoso, era demais... Eu mesma já não me reconhecia sem ti. Nada que
eu fizesse sem você, tinha graça. Era como se eu não existisse e todo o resto
fosse nada. Você preenchia as minhas lacunas, disfarçava as minhas arestas,
fazia parecer normal as minhas loucuras. O quarto já não era mais frio e repleto
daquela solidão dolorida depois que você chegou. Tudo parecia completo, repleto
de paz. Mas aos poucos, como num conto ou numa ficção, tuas partidas pareciam
mais reconfortantes que as tuas chegadas. E a tua mania de ir sem avisar,
passou a ser menos traumática. E a convivência foi se tornando suportavelmente
- só - necessária. Algo em mim estava errado. Fora do eixo. Tu não me
descarrilava mais. Não me causava aquela louca e prazerosa sensação da descida
da montanha russa. Pelo contrário... Parecia a parada dela. Quando se sente
somente o alivio e por fim, os pés tocam o chão proporcionando segurança. Fui
me acostumando com o que você tinha a me oferecer e domesticando o que eu
esperava receber de você. Até que naquela noite resolvi pontuar os i’s e findar
essa angustiante reciprocidade. Não era o bastante pra mim. Eu amava por dois e
meu peito já não suportava carregar tanto sentimento. Dividir não era a
condição, continuar multiplicaria e fatalmente seria letal, somar talvez fosse à
solução, e eu pensei em discutir o assunto. Mas quando chegou, seus olhos não
vieram com você. E percebi isso assim que seus lábios selaram os meus sem o
sussurrar de “boa noite”. Naquele momento compreendi que com ou sem você, o
fardo seria único e exclusivamente meu. A boca que tocou a minha não era a tua. As mãos que me percorreram, não eram a tua. Você não era VOCÊ. E foi nesse momento que entendi que nada do que havia sido
vivido, havia sido por nós. Eu senti tudo sozinha. Deixar você foi a decisão mais difícil que já precisei tomar, me convencer de que tudo não era o que era foi doloroso demais pra mim. Ver a surpresa em seu olhar ao meu ouvir foi a coisa mais assustadora que já vivenciei, mas nada era mais assustador do que nos amar, do que carregar esse monte se sentimentos sozinha. Assim como continuei
sentindo até ontem. É, ontem... porque hoje acordei disposta a deixar o passado
pra trás. Esse que criei sobre nós. Despertei literalmente crente de que nunca
houve nada de verdade. Além da verdade que eu acreditava existir sobre nós.
Por. Bell.B