30 abril 2014

Medo


Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha.
Por. Fabrício Carpinejar

(Re)Adaptação



Ela já havia passado por tudo. Literalmente tudo que se possa imaginar sobre se reinventar, sobre se renovar, sobre se superar, sobre morrer. Renascer. A esta altura do campeonato, é claro... Não imaginaria em hipótese alguma que teria pela frente uma nova fase, outro teste, mais uma etapa. Mas como sempre, encarou a batalha de frente, vestiu sua armadura e seguiu adiante.

Os dias passaram com um furacão e quando se deu por conta, cravaram-se já dois meses, sua vida havia mudado da água pro vinho. Era como se ela tivesse sido roubada de si mesma. Estava numa fase intensa de (re)adaptação. Tinha sido virada não de ponta cabeça, mas do avesso. Ainda sofria de abstinência, lhe faltavam às grades gélidas (que embora de aço, nunca há aprisionaram nos últimos 10 anos), o (re)soar do vento entre os vãos da veneziana, as luzes distantes dos faróis dos carros (que por tantas e tantas noites escuras, clareavam a sua mente). Este lugar que não era novo (já havia morado ali anos atrás) mas lhe trazia sensações ruins. Era completamente diferente de seu antigo lar. Não tinha escadas, nem elevadores, não haviam grades nas janelas e nem um interfone pelo qual poderia se dar ao luxo de receber ou não uma visita. Estava literalmente aprisionada a liberdade daquela nova/velha casa. Sentia falta da "liberdade" que a "prisão" do apartamento lhe causava.

A janela principal não tem grades, dá vista direta para a rua e mesmo assim, é impossível ver luzes de faróis (como os que por tantas vezes a guiaram), a porta de entrada não esta de frente a 4 outras portas, como a anterior, esta encara uma parede gigante e dá num corredor. A sensação que se tem ao sair de casa é de que se esta entrando num labirinto. Embora seja uma única muralha concretada. As cortinas não dançam mais com o vento, ela já não debruça mais seus cotovelos com sua xícara de café pra buscar conforto nas luzes noturnas ou buscar inspiração. O silêncio da noite não a embala mais. As paredes de seu quarto, não são mais cor-de-rosa, nem sua vida é mais...

... Mas como antes, como sempre, ela não desiste. Ela segue em frente, de cabeça erguida e temente. É só mais uma fase, é só mais um teste. E assim como em outrora, há de chegar mais uma vez há “sua hora”. E ela espera, e ela busca na imensidão do céu sua calma. Porque ela sabe, ela tem certeza de que todos esses novos machucados irão curar, e isso que esta passando, será só mais uma história a contar.
Por. Bell.B