16 março 2023

Será?

Naquela tarde, inesperadamente ele lhe surgiu a mente. Sentiu uma nostalgia incomum. Embora a nostalgia fosse um dos seus sentimentos mais latentes, havia emergido de uma maneira incomum e isso a inquietou. As horas passaram, a noite também e por fim o período em que ela mais se sentia confortável, chegara.  


Entre os cigarros, as incontáveis xícaras de café, suas incansáveis “playlist’s”, buscou nos acervos antigos, algum livro, (Pensou na lista dos que já deveria ter adquirido, mas por algum motivo, não havia), nenhuma das opções lhe agradaram, embora fossem os seus favoritos... (Talvez não fosse isso, não era de uma leitura que precisava naquele momento)  
 
... Tentou então, continuar alguma das séries iniciadas, terminar um documentário que parou, por não estar muito bem emocionalmente, (E isso, era algo, que ela nunca conseguiu estabilizar em toda sua vida) mas nenhuma dessas, eram opções. Nada, nada naquele momento prendia sua atenção. Caminhou até a janela, que hoje, não mais tinha a vista que tanto amava. Esta, não lhe mostravam o horizonte, os faróis indo e vindo na madrugada da tão amada, cidade que não dorme. Não lhe permitia sentir o idolatrado vento ou os respingos da chuva, não lhe dava a vista, da amada lua. 

 

Recostada no batente da janela da cozinha, com um cigarro meia vida entre os dedos, embalada pelo som que vinda do corredor (de dentro do seu quarto), seus olhos fixos no muro revestido de reboco velho, marcas escurecidas de temporais passados e formas geométricas que o desgaste artisticamente deixou, em meio a uma tristeza saudosamente doce, sentiu muito levemente um sorriso querer repuxar seus lábios. Inconscientemente (ou conscientemente) tentou avistar a lua. Em vão, porém entendeu o porquê de estar inquieta. Lembrou-se de ter se lembrado dele, e compreendeu que havia esquecido até aquele exato momento, por “livre e espontânea” defesa. 
 
Respirou fundo, e num repente se pegou encarando a xícara e visualizando a cara dele em negativa aos seus costumeiros prazeres... (Café e cigarro) 

... Imaginou o que ele estaria fazendo naquele “agora”, o que teria acontecido em sua vida, com seus planos, em sua vida. Caminhou até a bancada, passou outro expresso na máquina, acendeu outro cigarro e caminhou de volta pro quarto. Apagou a luminária, deitou-se e perguntou em voz alta: - Será, será que você ainda pensa em mim, como eu penso em você!? 


Por Bell.B