21 janeiro 2013

Tão Mais

Acordou sentindo uma enorme sensação de perda. Já passavam das 16:00 e um pouco mais tarde, tinha uma festa. Não estava com vontade alguma de ir, alias, não estava com vontade de nada. Queria continuar deitada, mirando a lâmpada, projetando seus sonhos naquele teto tão sem vida e sem graça. O telefone disparou, deixou tocar (odiava ter que falar logo que acordava). Depois de uma curta pausa, voltou a chamar. Colocou o travesseiro sobre a cabeça e com toda sua força, desejou que ele parasse... (Parou! Achou momentaneamente que sua prece tinha sido atendida) Em vão, agora tocava o celular. Bufando, sentou na cama, apanhou o aparelho e viu no visor quem estava a incomodar. Sem qualquer delicadeza, jogou-o dê lado, foi ao banheiro, escovou os dentes, e em seguida foi a cozinha fazer café... (seus rituais de sempre para acordar). 

Com o café em uma mão e o cigarro na outra (pra variar), recostou na parede e fitou a rodovia ao longe. A cada gole ou trago, tentava imaginar a que horas do dia seguinte ele partiria. Pressupôs que seria logo nas primeiras horas do dia seguinte. Uma lágrima atrevida cortou sua face e antes que mais fizessem o mesmo, sacudiu a cabeça, colocou a xícara na pia e se pôs a cumprir algumas tarefas. Não gostava de sair de casa e deixar coisas por fazer. Enfim, ajeitou algumas coisas, arrumou a cama, abriu o guarda-roupa e escolheu o que vestir. Arrumou a roupa em cima da cama, foi para o banho, trocou-se e saiu. (foi para a droga da festa). Embora tivesse escolhido algo casual/simples, estava muito bonita. Chamando a atenção dos olhares "famintos" para variar. Mas como estava longe demais, para "notar" estar sendo "notada"... Nem se deu conta dos olhares a mirá-la. Conversou com algumas pessoas, sem perceber, desfez de outras, e ao concluir que enfim, "já havia feito social o suficiente para ir embora", se despediu e voltou pra casa.

Tinha dormido a maior parte do dia, e mal devido a constante insônia que teimava em perturbá-la sempre que ia se deitar. Estava um pouco embrulhada por conta das coisas que empurrará garganta abaixo na festa e pesada devido a algumas sensações que sequer, sabia explicar. Entediada, chateada, recostou os cotovelos na janela. Agora os faróis distantes, pareciam golpear sua vista, as luzes dos prédios se misturavam, parecendo se contorcer diante de suas retinas. Os olhos ardiam, o peito apertava, os lábios tremiam. Ventava forte e uma fina garoa caía, mas seus tremores não vinham do "clima". Encarou o relógio e ele autoritário encarou-a de volta exibindo 22:01. Fez uma careta enorme para aquele número detestável, olhou por sobre os ombros e mirou o PC. Sentou-se de frente a ele, e pensou se daria tempo de escrever e ele ler/ouvir antes de partir. Soltou um palavrão... não daria. Provavelmente, ele já estaria com o PC desmontado, encaixotado e rolando na cama a espera da hora de partir. Sentiu-se ainda mais angustiada. Tinham se falado a semana toda, todos os votos de "vitória e sorte" já haviam sido enviados, mas a porra do "falta algo" sempre a perturbava. Abriu o e mail, mas não escreveu nada, apanhou o celular, digitou algumas palavras, mas não enviou. Teve medo de acordá-lo caso já estivesse dormindo, ou deixá-lo ainda mais ansioso, caso ainda não tivesse pego no sono. O que faria, logo seria dia 20/01/2013 (a data marcada da partida, nunca até aquele dia, tinha detestado tanto um número par) teria tempo? E antes mesmo que a resposta viesse...

... estava correndo, correndo contra o tempo! Como se estivesse numa busca frenética pela cura de uma doença letal, ou como se estivesse fugindo de um crime. Faltava o ar, faltava força, falta tempo. Maldito tempo, tempo cretino. E sem se importar com tudo que naquela hora lhe faltava, continuam correndo. Já estava claro quando chegou na esquina da casa dele. Faltavam agora, apenas alguns metros, de onde estava, podia ver o portão e a árvore. Parte do cantinho que ele avia apelidado com o nome dela há alguns anos atrás. Não tinha mais forças para correr, e a cada dez passos que dava a caminho do portão, a impressão que tinha, eram de que ele se afastava 20. Como num filme, milhões de cenas passaram de uma só vez em sua mente. As brigas, as alegrias, os momentos de aflição, de união, os momentos juntos, os que nem se falavam, tudo. Tudo de trás pra frente. Só voltou a si, quando bateu a mão no portão e sem fazer qualquer esforço, o viu se abrir.

O silêncio ali era tamanho, que parecia ecoar dentro dos seus ouvidos, refletindo as sensações de seu peito. Parecia bater com a mesma força de seu coração. Ricocheteava em seus olhos de tal maneira, que nem mesmo se rasgando em prantos, era capaz de se sentir menos pesada, aliviada. O nó em sua garganta, quase que a sufocava. Doía. E era uma dor tão doída, que precisou sentar-se no batente da porta para se recompor... Ao menos para conseguir voltar para casa. Não teve tempo, não deu tempo. Ele já havia partido. Aquele lugar estava recheado de tantas lembranças, quanto do vazio. A sensação que tinha, era de que tinham lhe roubado o “elixir da vida”. Ao se recompor, voltou pra casa. Tinha tão mais a dizer a ele, tão mais a desejar, tão mais a falar... Não chegou a tempo.

Ao entrar em casa, o visor do celular estava aceso (uma mensagem), resmungou pelo número e torceu o cenho. Seu corpo estava destruído, seu estado emocional em ruínas, os olhos ainda ardiam. Mas sua curiosidade era maior que sua fadiga. Apanhou o celular...

“... quando tudo parece turvo, obscuro, desfocado eu fecho os olhos e te vejo/sinto/ouço me animando e dando apoio... por isso que te amo, mesmo sendo assassina de molinhas (tem isso blog)... doce dia Mo, te amo S2”

... aquela tinha sido a primeira vez em toda sua vida, que sorrira para um número "impar... (1 mensagem)" .  Chorou,sorriu, o xingou de tudo e de todos os palavrões possíveis e inimagináveis.  Ela não conseguiu se despedir, ele já havia partido. Mas existia entre eles esse poder mistico. Saber a hora exata em que um precisava do outro, e para isso, não era necessário muita coisa, pois seus fins, sempre justificavam seus meios.
Por. Bell.B

Um comentário:

  1. "...
    Os dias que se passaram foram doloridos, foram cansativos arrumando tudo. Sempre que sobrava um minutinho - entre desfazer uma caixa e outra - mandava uma mensagem para ela. Já tinha eleito aquela lage, no alto da casa, o local que traria ela assim que possivel. Uma semana e um dia haviam se passado. Oito dias. Foi quando ele resolveu fazer algo que nem mesmo ela esperava. Aliás, nem mesmo ele.
    ..."

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