02 maio 2013

Aion


Tanta coisa havia mudado nela, com ela. É certo dizer que algumas coisas permaneciam intactas mas por algum motivo, outras tinham adormecido. O tempo se estendia, o espaço foi ficando cada vez mais "espaçoso". A correria a obrigava deixar de lado as vontades que vinham vez ou outra de querer saber, procurar, entender o que de fato tinha acontecido entre eles. Mas infelizmente não estava tendo tempo. Depois daquela viagem, as coisas tomaram rumos completamente diferentes do que estava acostumada. Voltou mudada, diferente, mas por consequência, tudo a sua volta também mudou. Precisou se impor mais, mostrar mais autoridade, teve que provar que não era mais uma garotinha. Nunca fora... Mas de alguma maneira a viam assim, e ela estava trabalhando arduamente para mudar isso. E por isso, muito de tudo que amava fazer, foi ficando de lado.

Seus livros estavam totalmente empoeirados, não terminará de ler o último que havia começado há 3 meses atrás. Ler era uma de suas paixões e um livro como aquele, ela teria terminado em duas semanas no máximo (não terminou). O computador passava a maior parte do tempo desligado, estava sem internet, então não tinha porque ligá-lo. Coisa raríssima de acontecer. O mundo virtual era realmente real pra ela. E ficar sem isso, era complicado demais, até porque, a primeira coisa que fazia quando acordava era ligar o pc antes mesmo de escovar os dentes. Também não tinha tempo para escutar música. Só ouvia nos finais de semana e nem sempre eram as que gostava de ouvir, devido a correria, só escutava nas festinhas ou reuniões de amigos e família que inevitavelmente não podia recusar, embora em muitas delas nem quisesse ir. (essa situação estava acabando com ela, mas ela não tinha opção). Outra coisa que a estava consumindo era à abstinência de escrever. (Deus! Como isso a ajudava a esquecer, como isso a ajudava em seu dia a dia) Tinha vários textos prontos, mas cadê a porra do tempo para deixá-la revisar e postar tudo? Não tinha! E como era detalhista ou chata demais com seus "rabiscos" ia deixando pra lá, até sobrar um tempinho, até estar tudo tranquilo pra que pudesse sentar e contar ao mundo o que se passava dentro/com ela.

As noites continuavam longas, as horas voavam e quando se dava conta, outra semana tinha morrido pra nascer um mês novo. Quase todas as noites, antes de cair na tortura do travesseiro, que parecia ter milhares de espinhos assim como sua cama. Apoiava os cotovelos na janela, e fumava seu cigarro observando ao longe os faróis dos carros indo e vindo, enquanto ouvia a noite gritar em silêncio entre o vento atrevido que bagunçava não só os seus cabelos como também seus pensamentos. Mesmo não sabendo nada do que estava acontecendo com ele, quando olhava pra lua, tinha certeza de que estava tudo bem. Aquele "bem" na medida do possível, que possivelmente não era tão bem assim. E nesta hora apanhava o celular, e via a última mensagem que receberá dele, embora não merecesse ter recebido mensagem alguma.

                                                   "será que ainda se lembra de mim..."

Já havia alguns dias que tinha recebido aquela mensagem, e na exata hora em que entrou, ela olhava a lua pensando nele. Desejando que estivesse bem, tranquilo, feliz. Também sabia que ele não estaria bem, nem tranquilo e nem feliz. Assim como ela, ele não sabia de nada e certamente também procurava entender o que de fato os tinha afastado daquela forma. Sentiu-se mal com a mensagem. Ele perguntará a ela, o que ela se perguntou várias vezes morrendo de medo de saber. "será que ele se lembra de mim?" A resposta dela chegará de imediato, mas como faria para responder a ele? Estava sem internet, sem créditos. Sem forças para pedir a Deus um milagre. Talvez sem graça de pedir a Deus por esse milagre, já que poderia resolver estes problemas pequenos por si só. A raiva e a tristeza se faziam maior, porque de fato ela estava fazendo exatamente isso. Correndo contra o tempo, lutando como nunca para reorganizar sua vida. Estava tão carregada, tão sobrecarregada que se entrasse em contato com ele, talvez ficasse mais aliviada, mas jogaria nele, toda essa carga. E não seria justo. Não com ele.

Todas as noites conversava com a lua, era a maneira que tinha de enviar a ele suas entrelinhas. Imaginava com tanta concentração suas mensagens, que era capaz de ouvi-lo responder. Mas mesmo assim, isso não era o bastante. Precisava de mais, então pela manhã, apelava para as nuvens e ora e outra soprava com força em direção ao Céu enquanto seu coração dizia em silêncio "não me esqueça...".  E assim foram seus dias, que viraram semanas, que se tornaram meses. Passou a semana resolvendo seus problemas, pagou inúmeras contas e a primeira coisa que fez ao chegar em casa foi ligar o PC. NADA! Invocada, tomou um dos seus "coloridinhos" (estava cansada demais para duelar com seu travesseiro naquela noite) e se atirou na cama. Acabou acordando de madrugada e como percebeu que não dormiria mais, ligou o PC. E desta vez a conexão foi aceita. A primeira coisa que fez foi ir até ele. E por milagre, ou por magica, ou por destino... Ele estava lá, a poucos minutos de distancia dela. E ela leu cada linha uma, duas, três vezes. Leu a quarta por detestar o impar, mas talvez tenha lido por só querê-lo mais perto, mais dentro de si. Outra vez se sentiu mal, ele estava ali, sofrendo também, tanto quanto ela, sem entender, sem saber, mas com a certeza de que realmente entre eles, não importava por quanto tempo a falta ou a ausência permanecesse, não importava por quantos dias, semanas ou meses o silêncio imperasse, nada nem ninguém poderia separá-los. Eles se pertenciam numa sintonia fina entre o Céu e as Nuvens. Eles estavam em sincronia eterna como a Noite e a Lua. Eles estavam um com outro como o Relógio e seu Tic-Tac irritante. Eles não eram como Khronos (quando o tempo pode ser medido) ou como Kairôs (onde há um momento indeterminado de tempo) eles eram como Aion o tempo sagrado e eterno, sem uma medida precisa. Eram fortes, eram grandes, eram como o Tempo a abrir uma bocarra enorme do Agora e devorar a Rocha enorme da saudade de Ontem.

Por. Bell.B

2 comentários:

  1. Eu estava numa noite inquieta, na manha seguinte tinha a última etapa de uma entrevista de emprego (pra instrutor numa escola de informática, conto os detalhes depois, por email ;), me revirando pra lá e pra cá na cama... o celular bem baixinho tocando nos fones uma sequencia só de músicas suaves.. pra relaxar (ando tenso, tbm conto mais depois u.u) e pra tentar dormir... eram 2 e pouco e eu já estava na cama, me revirando pra cá, pra lá, pra cá, pra lá... dormi um pouco, acho que entre 2:40 e 5h eu dormi... depois acordei, fui ver a hora "8 mensagens novas" sorri de canto, antes de abrir já sabia que eram tuas. Ninguem, ABSOLUTAMENTE NINGUEM, me manda 8 sms, ainda mais de madrugada... Li uma, duas, oito vezes cada uma... antes de ir pra entrevistaa (ok, mais tarde vou te mandar um email complementar) eu dei uma olhada rápida, mas não cheguei a ler tudo... assim que voltei da entrevista primeiro descansei, respirei fundo e vim ler... vim te ler... vim te ver... e... pq eu to com os olhos marejados? Não te chamo pelo nome completo aqui porque vou fazer isso por email... mas.. mas... aff.

    ps.: foi estudar mitologia grega é? nosso tempo é o "tempo de Deus"... que assim seja. Te amo <3

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    1. Você me faz querer redescobrir o antigo, aprender sobre o novo, ensinar o que ainda nem sei. Você me iça do fundo, me faz flutuar em águas profundas. Me resgata de mim mesma quando acredito que não existe mais saída. Obrigada por existir em minha vida. ♡

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