01 agosto 2013

Ressaca



As imagens se distorciam a sua frente, ouvia barulhos estranhos que se misturavam ao som de vozes aos milhares. Uma música tocava ao fundo, bem de longe. Como naqueles filmes, quando a “mocinha” esta resgatando memórias. Sentiu o chão abaixo de seus pés tremerem e em seguida, seu corpo todo parecia estar em convulsão. A música ao fundo foi ficando mais alta mais evidente. Alguma coisa em seu bolso começou a vibrar, tateou o casaco e no meio do caos em que se encontrava, apanhou o celular. Quando olhou o visor, tudo a sua volta pareceu congelar. Sem atender e sem nem saber por que, atirou o aparelho contra o chão. As pessoas começaram a correr, os carros buzinavam sem parar, mas ela continuava ali, paralisada, imóvel. Outra vez, algo vibrou em seu bolso. Desta vez, tateou mais devagar. (Um dejá-vù? Uma ilusão?) Quando olhou na palma da mão, lá estava ele... (celular) Incrédula, confusa, a ponto de surtar, o apertou com tamanha força entre os dedos, que o sentiu estalar. Gritou tão alto que todos a sua volta, pararam para olhar. Repentinamente uma agulhada fisgou em sua fronte. E tamanha foi à dor, que precisou se abaixar. Outra vez a “tal canção” começou a tocar, mas agora, parecia ecoar dentro de sua cabeça. Apertou os olhos com toda força que pode e pediu a Deus que tudo aquilo parasse, antes que ela não pudesse suportar. Assim que terminou as suplicas, foi abrindo os olhos bem devagar...

O silêncio só não era total, porque alguma coisa parecia zunir dentro de seus ouvidos. (Fez força para se encontrar, como teria ido parar ali? Onde teria ido parar as pessoas, os gritos, os tremores?) Quando foi tentar virar a cabeça, sentiu o estômago revirar, a agulhada apertou e estendeu por todo seio da face. Levou as mãos contra o rosto afim de fazer aquela sensação horrível parar. (o que diabos estava acontecendo?) Outra vez a “canção” e agora ela vinha junto com as vibrações. Virou-se de bruços, tateando embaixo do travesseiro. (foi ai que se deu conta... tinha acabado de ter um pesadelo) Puxou o aparelho para perto dos olhos (12 ligações, 3 mensagens... sorriu de leve e um tanto quanto aliviada). Jogou-o novamente de canto sem se importar com quem ligava. E mesmo com a cabeça latejando e uma enorme vontade de vomitar, riu de si mesma quando assimilou o “toque do celular” com a “música de fundo do sonho maluco”. Sentou-se na beira da cama, notou que ainda vestia as roupas da noite anterior. Chegará tão “chapada” da “noitada” que não conseguiu nem banho tomar. Olhou para o relógio e há muito, já havia se passado a hora de se levantar. “Foda-se” pensou, definitivamente não ligaria, não se justificaria, não hoje. Estava literalmente detonada. Tanto física quanto emocionalmente falando. Levantou-se e foi para o banho.

Deixou a água escorrer por vários minutos, ora e outra, erguia o rosto, afim de que a água levasse para o ralo seu mau humor, seu mal estar, suas dores. Enquanto isso fazia força para se lembrar de tudo que exatamente tinha acontecido. Alguns fleches se projetaram no vidro do box esfumaçado pelo vapor. (ela apanhando as chaves e saindo, a silhueta, a conversa... o ataque dentro do carro, o bar, alguém a observando, as doses...) Impulsivamente, arrastou a mão sobre o vidro, como quem tenta dissipar fumaças no ar, e isso a fez reparar nas mãos. (Olhou para as marcas) Sentiu-se ridícula. E ainda mais ridícula por ter ido encher a cara. Essa não era uma atitude dela (encher a cara), o que teria feito agir de forma tão imatura? Como uma mulher centrada, racional, madura como ela, pode na altura dos seus 32 anos, fazer o que nunca fizera quando lhe era fácil justificar. Tomar um porre ou outro aos 18 ”vá lá”. Chegar alterada, rindo a toa, beijando até o porteiro aos 20 é de se esperar. Quebrar o retrovisor, picotar as roupas, queimar as cartas do namorado aos 25 anos é normal. Mas aos 32 era meio difícil de aceitar. Por fim, saio do banho, decidiu que não sairia de casa por nada, nem por cargas d’água. Apanhou o celular, desligou. Puxou o fio do telefone da parede. Vestiu um dos seus pijamas mais surrados, comeu alguma coisa pra sustentar os remédios para “enxaqueca e náuseas” antes que de fato tivesse que correr para o vaso sanitário e vomitar. Acendeu um cigarro, colocou algo leve pra tocar e se atirou na cama. Precisa repousar, precisava se entender, se reorganizar. Precisava ficar ali sozinha, isolada... Só por hoje e deixar a ressaca passar.
Por. Bell.B

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