Penúltima hora...
Sempre que lia sobre valores ou sobre só se dar conta da
importância de algo depois de perdê-lo, sorria. Sorria movida a minha
arrogância, a minha prepotência que insistia em lustrar o meu egocentrismo.
Talvez por estar certa do que provocava, do que fazia sentir. Do que era estar
de pé, em carne e osso diante de ti. Deus como fui tola, como demorei a me dar
conta. Cá estou eu, deixando os dias me atravessarem, sentindo as horas me
mutilarem, a mercê dos últimos segundos que restam de esperança. A esperança de
ser resgatada, nos últimos milésimos antes que o agora seja de fato ontem. Há 22 dias atrás te escrevi, mas não tive coragem de enviar. Estava com raiva, fiz cobranças, vomitei minha amargura, minha saudade, minha ira nas palavras. Nem sei porque fiz isso, ou sei. Não sei mais o que ou como dizer, não encontro mais as formas certas de ir, de procurar, de chegar perto de você. E antes que eu me atire de vez no mais profundo poço de amarguras e
arrependimentos, vou tentar mais uma vez, só mais uma vez me aproximar de você. Mas confesso, estou com medo, Não! Estou desesperada... Logo eu, quem diria a mulher-maravilha.
A força em pessoa, aqui... Ressabiada, duvidosa, atirada, jogada, a espera de quem tanto esperou e
nunca recebeu nada.
Última hora...
Tenho buscado por lembranças das quais quando momentos
não me causaram tamanho efeito como o impacto que tomaram agora. Todas as
letras e canções, todas sem exceção, ecoam, parecem acertar minha cara como num
tapa de raiva a fim de me fazer enxergar, te enxergar. Como foi que não vi? Porque
diabos não te enxerguei como te vejo neste agora? As fotos acumuladas
nas caixas, os versos presos nas folhas, uma mensagem salva na caixa de voz (puta que pariu, que nó me deu na garganta)...
Com a sua voz dizendo o quanto me ama. O quanto me amou naquele tempo, bons
tempos. Pergunto-me agora, o que é que meus ouvidos escutavam naquele época,
que não captaram seu tom, em que peito batia meu coração, que não no meu? Como é
que aquele som rouco e tremulo das suas cordas vocais não timbraram em minha
alma a tua, ao me confessar amor? Tão ingênua, tão imatura, tão ridiculamente
infantil que fui, e medrosa também. Era medo, era mais medo que amor. Agora
tudo que sinto rompeu o silencio, atravessou o meu peito, rasga tudo aqui
dentro. Te escrevi/te escrevo... Canto confesso, quase que imploro tropeçando
de desespero nas palavras, nas linhas, pra que me sinta, que volte que me note. Pois a remota suspeita de ter
virado lembrança me faz desmoronar. Me faz falecer, não me permite continuar. E
caso não venha, não responda, não se importe, não o culpo, não o julgo, não o
condenarei. Fui eu quem querendo ou não cooperei com esta situação.
Penúltimos minutos...
Eu vou enviar, vou contar a você o que sinto. Não porque
preciso me aliviar desta sensação sufocante, mas porque depois de tudo que te
fiz passar, é digno de minha parte confessar-te o que estou passando/sentindo por você.
Talvez seja o mínimo a fazer agora. Não tenho muito tempo, o tique taque do relógio me consome a cada segundo passado, seguro a agonia como
quem dedilha uma navalha afiada prestes a cometer suicídio. Prestes a cessar a dor. As horas passaram me arrastaram nada de você. Eu preparei o jantar
na esperança de que aparecesse, coloquei a nossa música pra me confortar até
que entrasse por aquela porta e sem me dizer uma palavra, confessasse com o
olhar que estava de volta. As velas foram consumidas pela chama, a comida
encontra-se mais fria que a sobremesa, a música repete incansavelmente ao fundo
e... Você não apareceu, sequer deu sinal de vida.
Último segundos...
Eu te amei te amei mais do que fui capaz de mostrar ou
dizer quando veio me ver. Eu te amei tanto, mas tanto, que não tive coragem de
encarar esse amor de frente. Não fui capaz de enfrentar o mundo, como fez por
mim. Não fui capaz de ir até você, como por 3 vezes veio a mim. Sou fraca...
Não tenho mais forças, seu amor me sustentava por nós dois e talvez por isso
não tenha dado em nada. Não tenho mais nada, nada além das canções, dos livros,
dos filmes. Não sobrou nada! Nada além do seu desenho cravado em minha carne,
nada além da nossa canção riscada pesando em meu ombro. Nada além do som da sua
voz e dos acordes desafinados do seu violão ecoando as primeiras canções que me
deu em tantas belas madrugadas. Não sobrou mais nada além da lembrança dos teus
olhos quase negros certos do que queriam, mirados aos meus apavorados sem saber
como esconder o que de fato eu não queria deixar transparecer. Não tenho mais
nada, fora as datas, esta data. Nossa data. É tão estranho comemorar 8 anos sozinha com você... Acabou, acabou o
nós. Mas eu continuo com você. Aqui, em mim. Pra sempre. Não consigo te
esquecer, não posso. Não dá! Não vou... Nunca fui! Não sem você. E me dói tanto
saber, só saber agora, que depois de ter perdido tudo, de não ter mais nada,
ainda assim, mesmo sem te ter, o melhor de mim era/é, foi/será/está com/em você!
Por. Bell.B
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