04 setembro 2013

Estopim




Ela se afogou com as palavras, que por não terem sido ditas, misturaram-se a saliva descendo garganta abaixo lhe causando extremo desconforto estomacal. Não estaria assim, com esse mal estar, se tivesse vomitado (na sua cara) cada palavra, não estaria sentindo queimar em sua traqueia as frases que teve de engolir e certamente a acidez em seu estômago, não estaria lhe causando tamanho desconforto mental. Nunca fora de levar desaforos pra casa, ou de se calar quando estava certa de ter razão. Nunca suportou a ideia de ser julgada, injustiçada ou colocada numa situação da qual não tinha o direito de defesa. Mas na altura do campeonato, estava cansada. Cansada demais pra provar estar certa. Estava cansada demais pra pedir que não mais viesse atrás dela ou que viesse atrás dela. Estava extremamente cansada, de ter que caminhar ao lado dele, fingindo não se importar com seu temperamento “quadripolar”, que hora a fazia sorrir com a mesma intensidade que a fazia chorar. Estava farta de ter que perdoar, quando o que mais queria, era não ter que se magoar por poucas bobagens ou por motivos sem sentido, que rompiam do nada no meio de uma conversa qualquer que se não fosse pela instabilidade “mental” dele, certamente terminaria num banco de praça, sorvete e sorrisos. Há dias, talvez meses, vinha protelando, adiando, evitando falar sobre separações ou términos, fosse qual fosse o grau da relação. Mas definitivamente, o ultimo encontro fora à gota d’água.  Em outras palavras... O Estopim! Rompeu-se então o tratado, o pacto, a aliança, que fez consigo. Decidiu de uma vez por todas, parar de fingir que o mundo a sua volta era perfeito e de agir como se tudo que ele fazia/fez/falou não a destruísse por dentro. E mesmo não tendo uma conversa direta, resolveu deixar claro que mesmo ela não tendo dito, ela sente. E só não ligou, não escreveu, não procurou antes, porque precisava de tempo para digerir aquele mal entendido. Esta situação nunca lhe passará pela cabeça, não foi o que imaginou lá no passado pra hoje. Não foi o que pediu no menu de entrada quando te conheceu... (Isso esta acabando com ela) Então dá teu jeito e limpa o que quase escapa da boca dela com o guardanapo. Se entope de alguma bebida ou d’alguma desculpa pra não deixar sair da sua de novo. E quando for agir movido a impulsos descontrolados provenientes da sua noite mal dormida ou de um bate boca com qualquer um que não ela, conte até 10, conte até 20, mas não á magoe mais. Coloque-se na posição que ela se encontra agora e talvez consiga mastigar suas farpas, sentindo-as se misturar a saliva antes de descerem suavemente cortando sua garganta. De um tempo de você, afaste-se das pessoas, respire ares novos, reinvente-se, e quem sabe assim você descubra que talvez seja isso que vem causando tamanho mal a ela, e talvez por isso ela esteja morrendo internamente pela sua falta de desconfiança dos sinais dela. Da falta de percepção milimétrica de quem confessa com as olheiras que tem chorado, de quem repuxa os lábios num sorriso mecânico como quem diz que é fachada, mas você não acha que é. Talvez agora você esteja dando de ombros, como quem esta pouco se lixando pro estado fisico ou mental dela, mas meu caro amigo... Mesmo assim eu vou te falar sobre ela, sobre como ela esta.

Ela vai bem, obrigada, mas não vai coisíssima nenhuma. Ela fica e vai ficando chateada, magoada, doída por dentro, ainda que você a chame de doida pelos surtos psicóticos do nada, que nunca são por nada. Só é do nada pra você. Pra ela a coisa tem história, registro e motivos suficientes pra dar voz ao silêncio. Mas ela não fala. Ela decidiu não falar. Ela não grita e não olha mais nos seus olhos pra segurar o forte desejo de despejo esganiçado que arranha as cordas e arranha o peito e arranha esse amor bonito que vocês poderiam ter tido se em outrora você não à tivesse deixado no meio do caminho. Um amor que vive num futuro mais que perfeito, que nunca vem ou tem sentindo. Mas que judia dela com a sua ausência prazerosamente presente que desdenha dela porque não sabe o que de fato acontece com seus sentimentos. Você não sabe e ela não mais diz. Acorde, sacuda a poeira, penteie o cabelo. Escolha qualquer roupa e apanhe uma fruta da fruteira. Tome coragem, não desista, ou desista! Esta será a ultima vez que saberás sobre as coisas que ela escreve sobre você num velho diário/agenda/papel-de-pão onde faz de conta que as coisas acontecem e lá ela diz, te diz, me diz, grita e não se esganiça berrando que... Tão evidente que nem precisaria rabiscar indireta ou diretamente. Ela esta perdendo as forças e talvez não consiga mais desejar boa noite repetidas vezes a você sem letra ou melodia do Skank cantando em neon que a sorte te sorri e você não sorri de volta e vê que ela te vê. Ela ira desaparecer como um nevoeiro e eu aposto, aposto contigo hoje ou amanhã, aposto que um dia ela ainda decreta a própria alforria e põe a boca no trombone/alto/falante/teu-ouvido e cochicha baixinho todas as coisas que ela não disse e que você nunca quis ver. Ou talvez ela se cale pra sempre e cultive o silêncio. Firme, forte e piedosamente bela num suplício sentimental que ecoa pelo restaurante, pelos jantares que tem com você, pelo mesmo pedido de sempre no cardápio em que nunca intervém na sua escolha. E convenha ao silêncio calmo e educadamente bonito como convém à etiqueta (motivada por tudo o que tinha a dizer e não lhe disse).
Por. Bell.B

Um comentário:

  1. ... então vamos viver, um dia a gente se encontra ♫

    http://www.youtube.com/watch?v=11QehEwG93I

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