13 agosto 2013

Sexto Sentido



Haviam se passado algumas semanas, desde seu último impulso violento e suas emoções descontroladas. Ainda era inverno, mas devido ao El Niño o a noite estava muito parecida com a que ela adorava e automaticamente, aquele clima a deixava mais leve, mais empolgada, mas motivada... Tinha terminado quase todos seus afazeres, ainda era cedo pra voltar pra casa. Pensou em ir ao Bar, mas segundos depois desta ideia passar por sua mente, sorriu levando a mão contra a testa.  Lembrou-se dos efeitos colaterais que surtiram em sua cabeça já não muito ordenada e rapidamente desistiu. Na verdade, a ideia do Bar só veio camuflar a vontade de ir até ele. Já que ficava no meio do caminho. E estando na metade, rapidamente poderia usar a desculpa de ter sido levada até ele, por obra do destino. O que claro... Não o convenceria. Ele a conhecia de dentro da fora, de trás pra frente, e certamente saberia o porquê dela estar ali, antes que desse qualquer outra justificativa.  Mas a ideia de ir até a metade do caminho e ou até ele, a inquietou pelo resto da tarde. Não tinha mais nada pra fazer e tinha tanto pra descobrir sobre o que viu, que ao chegar em casa, tomou um banho bem demorado e assim que se trocou decidiu. Iria até ele, afinal, estava controlada emocionalmente, tinha condições de ter com ele, uma conversa saudável, sem aqueles ataques frenéticos e infantis aonde ela falava compulsivamente sem parar aos berros, quase que sendo asfixiada por falta de pausas entre uma palavra e outra para respirar.  Foi até seu closet, escolheu algo casual e certa de que aquele encontro seria decisivo para a relação futura dos dois saio... (Saio focada, contando várias vezes até dez tentando não se lembrar do que tinha visto e sentindo lá, não queria que suas suposições a fizesse perder novamente o controle. Queria mesmo resolver tudo.) Precisava resolver. Durante todo o percurso, fez questão de puxar na memória todos os momentos maravilhosos que viveram (na verdade, isso não era difícil, embora tivessem tido algumas brigas calorosas, quase tudo que vivera com ele, era muito parecido ao dito “mar de rosas”), não queria chegar lá armada de mágoas, como uma ex chata ou vingativa, até porque, não se sentia como uma (EX), eles sequer haviam chego a um veredicto. Enfim, pode avistar a placa da cidade, esta saudava os visitantes, e assim que passou por ela, seu coração começou a bater mais apressado. Parou o carro no acostamento e entre enviar um sms e ligar, digitou o corpo da mensagem (a placa diz bem vinda, será que serei mesmo bem vinda?) e apertou enviar. Esperou alguns minutos, mas a resposta não veio. Então continuou o caminho. A ausência da resposta dele, a deixou ainda mais inquieta, fora por água a baixo todo o trabalho psicológico que havia posto em pratica até aquele momento. A respiração estava cada vez mais ofegante e segurava o volante com tamanha força, que por pouco não conseguiu arrancá-lo da caixa de direção. Já estava a algumas quadras da rua dele, e avistou um bar. Decidiu então dar uma parada, precisava beber alguma coisa e se recompor antes de reencontrá-lo. Queria parecer calma, indiferente, racional. Assim que entrou, fez sinal e logo uma garçonete veio atendê-la. Pediu uma Coca-Cola, não queria estar sobre efeito de álcool, queria se lembrar de tudo com clareza, e depois da sua ultima experiência, sabia que definitivamente, bebida alcoólica não a permitia raciocinar. Enquanto tomava o refrigerante, fez uma breve avaliação do lugar. Escuro, enigmático, com uma decoração nada atual, e embora não tivesse muitas pessoas, o curioso é que, contudo era acolhedor. A conclusão final dela, é que aquele era um lugar bem “Retro”, nada a ver com o estilo dela, mas tinha muito a ver com a personalidade dele. Essa comparação à fez sorrir de leve, mas antes que seu sorriso se estendesse pela face, visualizou um cartaz no fundo do palco. Apertou os olhos como quem avalia drasticamente e voltando-se para o balconista, logo perguntou de quem se tratava. Descobriu que era uma cantora e que há algumas semanas estava se apresentando ali. Aquilo pareceu cortá-la ao meio. Intuitivamente, associo aquele perfil do Banner à silhueta que havia visto na casa dele noites atrás.  E embora não tivesse ouvido com clareza a voz dela, comparando com a voz (doce, calma, pausada) de uma cantora, só podia de fato ser ela. Seu sexto sentido lhe dava essa certeza. Pagou e saiu.

Em menos de 10 minutos estava na porta dele, saiu do carro batendo a porta e dizendo a si mesma (controle-se). Assim que chegou à porta, não tocou, foi direto a porta e ao virar a maçaneta se deu conta de que estava trancada. Contornou a lateral da casa, e olhando pelo vitral da garagem, notou que a moto estava lá. Enviou outro sms avisando que estava na porta, quem sabe este ele responderia. Alguns minutos se passaram e ele também não respondeu. Começou a ficar aflita, milhões de coisas começaram a passar por sua cabeça. (Aonde teria ido? Estaria dormindo? Estaria bem? Estaria com ela?) Não conseguiu se segurar e desta vez ligou. Assim que ele atendeu ela fez uma pausa pra não falar bobagens, mas antes que pudesse dizer um simples “olá” sua concentração foi interrompida por uma canção ao fundo e segundos depois a ligação caiu. Seu coração veio na boca. Estava indo em direção ao carro quando o celular tocou. Era ele... Respirou fundo, e atendeu tentando manter o controle. Perguntou a ele, onde estava ele disse que na praia, convidou-a a ir até lá, mas na atual conjuntura, é claro que ela não iria. Estava quase arrependida de estar ali, que dirá ir encontra-lo. Discutiram brevemente sobre poder ou não esperar, até que ela deu a ele 10 minutos. Se ele não estivesse ali no prazo dado, ela iria embora pra nunca mais voltar. Aqueles 10 minutos pareciam serem mais longos do que o tempo que ela levou da casa dela até lá. Sua cabeça estava a mil, ainda mais agora que suas suspeitas deixaram de serem somente suposições e passaram a ser certeza. Estava com tanta raiva, que a vontade era de atear fogo na casa dele toda. Respirou, inspirou, e quando estava prestes a se deixar romper em lágrimas, o viu apontar no fim da rua. Rapidamente apanhou o celular para chegar o tempo. (Em tempo) Assim que ele chegou, ela se preparou para ouvi-lo já imaginando o que provavelmente ele diria. Também já tinha ensaiado todas as respostas, mas antes mesmo que ele começasse a se justificar, ela num impulso meteu-lhe um tapa no rosto. E antes que qualquer sentimento de culpa a invadisse, e a fizesse se desculpar, ela o puxou pela camisa, levando seus lábios aos dele, a fim de silenciar qualquer fala, qualquer justificativa. Se perdeu no tempo que seus lábios ficaram selados, embriagou-se da saliva dele com tanta sede, que se fosse capaz, sugaria toda a água do corpo dele. Embora tivesse milhões perguntas pra fazer, tivesse ido até lé pra resolver, foi rendida pela saudade, pelo calor, pela necessidade que tinha de senti-lo nela. Aquele beijo tinha um misto de sabores, mas assim que seus lábios se afastaram, um sobressaiu sobre eles. Curiosamente este, tinha sabor de Adeus. Ela abriu os olhos, se afastou de vagar, a Lua estava Cheia e linda atrás dele. Ela o encarou por alguns instantes, engoliu o choro e levou a mão levemente sobre a pele avermelhada em seus rosto e acariciou como um pedido de desculpa talvez, uma forma menos hostil de demonstrar o quanto ainda ele lhe era importante. Quem sabe? Quando seus lábios simularam falar, quando finalmente ela iria perguntar a ele sobre com quem ele esteve/estava, o celular dele tocou. Ele sequer tirou o aparelho do bolso, mas devido à hora ela imaginou quem era. Enquanto dava alguns passos para trás, seus olhos romperam em lágrimas, ele continuou ali parado, imóvel, olhando pra ela. Ela parou na frente do carro, e num tom muito baixo quase que em sussurros falou... “eu te amo, pra sempre vou amar você”. Abriu a porta e sem olhar pra ele entrou no carro, deu a partida e saiu. Mais uma vez não conseguirá resolver nada, o que acontecia com eles, entre eles, que não os permitia nem irem nem ficarem juntos? Aquilo à estava enlouquecendo. Fez todo o caminho de volta com uma das mãos nos lábios, ora e outra os contornava e num repente ele diante dela se projetava. Loucura, amor, obsessão. Que diabos de sensações eram aquelas? Mas de uma coisa estava certa, com ou sem ele... era ele, o homem da vida dela.
Por Bell.B

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