05 março 2012

Fazes-me Falta

Um bocado de mim treme ainda de paixão atrás de uma porta onde já não mora ninguém, onde eu nunca morei. Nestas águas-furtadas que não conheceste morava um homem e no corpo dele era a minha morada. Mas eu não sabia. (…) Imaginas um não-corpo a implorar beijos, saliva, suor e pele? A minha única âncora és tu, amigo sem lugar de perdição. Em ti, fuga das fugas. chama de segurança. fujo da paixão que me arrancou à vida. E não procuro nenhum dos outros homens que amei, talvez porque nenhum deles tenha podido guardar mais do que o sabor breve do meu corpo. Amavam a novidade do nosso prazer, o meu sorriso, a minha paixão, o que eu tinha para dar. Tu, sombriamente, amavas o que eu não dava - o ressentimento, a insegurança. a maternidade. Gostavas de me ver falhar, e não era por vaidade ou piedade, como geralmente acontece entre amigos. O meu lado medíocre não te excitava os melhores instintos. Amavas simplesmente a minha terra como uma criança ama uma pedra, um bocado de boneco, um urso sem olhos. É esse amor que agora me falta - o sujo, quotidiano amor dos momentos maus, das frases adversas. das ausências.
Por. Inês Pedrosa

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