16 junho 2012

Parasita

Já era tarde, a casa estava em silêncio, nenhuma canção de fundo. A única luz no ambiente, era a de uma vela, que acenderá ao lado de um incenso de canela. (ela adorava velas, adorava incenso, adora o clima que ambos proporcionavam ao seu espirito. Chamava esta sensação, de PAZ.) E teria sido mesmo, uma noite de paz, senão pela sua maldita insonia. Esta, que a fizera depois de muito lutar "pra não", ligar o PC. Enquanto esperava a máquina ligar, foi a cozinha e passou um café. Voltou, colocou o maço com o fósforo (quase sempre usava fósforos pra acender o cigarro. Não por não ter isqueiro, mas sentia certo prazer em riscar o fósforo e ver a pólvora pegar fogo. E por mais estranho que fosse, também gostava do cheiro) e a xícara na mesa, estalou os dedos e sem saber exatamente o que iria fazer ali tão cedo, conectou. Pensou em escrever, pensou em só ler, pensou em só ouvir músicas ou só ver vídeos. E enquanto pensava, lembrou-se de um msn que tinha (das antigas), logou nele. "Ninguém ON", pudera, eram quase 5:30 AM, quem estaria em plena manhã de sábado, á esta hora (além dela) sentada de frente a um PC. Tinha poucos contatos ali, talvez alguns, nem fossem mais "contatos". Não entrava ali há mais ou menos uns 2 anos. E na verdade, nem sabia porque tinha entrado. "Deixou logado", abriu sua pasta de músicas e "executou uma". Enquanto ouvia as canções, foi ficando meio "nostálgica, deprimida/triste talvez". Ao se dar conta do que estava sentindo. Se deu uma bronca. ("Ei... o que é isso, pare já!?") E antes mesmo de poder tomar o controle, uma janela subitamente pulou na frente da tela.

Ele: - Perdida?
 Ela: - Sempre! (e sorrio)
(Levou um susto, um calafrio percorreu-lhe o estômago)

Ele: Tudo bem com você?
Ela: Tudo sim, e com você?
(Ela tinha tantas perguntas pra fazer, mas de alguma maneira, talvez pela situação que estavam, pelo tempo que não se falavam, acabou só respondendo e não perguntando nada.)

Ele: Tudo indo, corrido, mas tranquilo. 
Agora, se bem a conheço, bem, bem, você não esta.
Ela: Porque acha isso?
(Mas antes mesmo de questionar, sabia que ele "saberia" que realmente não estava bem, por mais que dissesse estar. Ele a conhecia, conhecia além do ato "teclar". Ainda assim, tentou passar a impressão de estar mesmo, bem.)

Ele: Ora Bell, acha mesmo que só porque não nos falamos a tempos, não sinto você, não consigo identificar seus sentimentos? Esta de virada não é?
Ela: Rs, sim, estou. Cheguei tarde e não consegui dormir. Pensamentos...
Ele: (completando) ...Pensantes! É isso? Pensamentos Pensantes. Você sempre usa essas duas palavras pra "omitir" dor e tristeza. Será que errei?
Ela: Você é um chato!
Ele: Costuma apelar pros adjetivos ofensivos, quando não consegue ser convincente. rs
Ela: Senti saudades sabia?
Ele: Eu ainda sinto, sabia?
Ele: Preciso ir, senão perco a carona. E olha, eu não sei o que é, e ao contrario do que fiz a vida toda, desta vez não irei te apertar. Sabe aonde e como me encontrar. Meu número ainda é o mesmo, é só ligar!
Ela: Brigada! Sei sim. Bom dia!
Ele: Se o seu for, o meu será também ;) (algumas coisas não mudam)
Ele: Off
Ela: On

Assim que ele saiu, não conteve as lágrimas, talvez elas não tivessem rolado antes, pela surpresa em encontrá-lo. É verdade que antes mesmo de ele aparecer, ela já não estava bem. Já estava se sentindo meio "down", mas alguma coisa nele, na forma dele falar, a fez desmoronar. (um misto de emoções e pensamentos começaram a se misturar em sua cabeça, bateu saudade, bateu tristeza, sorrio por revê-lo, chorou também...) Rolou a barra e voltou a ler a conversa. Tinha sido rápida, nada demais, nada além, nada que já não tivesse acontecido entre eles, em várias outras "tantas"conversas. Mas alguma coisa nele estava diferente. Ela não o viu (cam desligada), ela não o ouviu (fone desconectado), mas ela sentiu. Conseguiu ver/sentir em poucos minutos, o que não foi capaz de enxergar por anos. Ele conseguiu fazer o mesmo, também a sentiu sem a ver ou ouvir. (Se bem que, ela era péssima em esconder seus sentimentos). SILENCIO... Fechou tudo (msn, navegador), ficou congelada de frente ao monitor. Na verdade, estava tentando entender o que "exatamente estava sentindo", estava tentando desfragmentar tudo aquilo. De repente uma névoa negra, pousou sobre ela, seus olhos começaram a arder, seus punhos serraram. Sentiu doer tanto por dentro, que se fosse capaz, abriria e tiraria com as mãos, a bola enorme que parecia se formar em seu peito. Chorou compulsivamente, tanto que em alguns momentos, forçou a si  mesma a levar a mão contra os lábios, pra silenciar os soluços que pareciam não ter freios. O que teria acontecido com ele, com ela, com eles? (sempre dividiam tudo, não se desgrudavam um minuto. Riam, choravam, brigavam, se odiavam quase sempre. Tinham uma ligação absurda, tão... que quando estavam impossibilitados de se falarem, usavam a telepatia. E acredite ou não, ela realmente acontecia. Falavam da vida um pro outro, falavam da vida dos outros, pareciam ligados por magia. Juravam por ai, que eles eram almas gêmeas. E eles também se sentiam assim. Eram mais que amigos, mais que irmãos, eram eles. E eram tudo um pro outro... Eram!) Voltou a fita, como quem tenta achar um detalhe qualquer, um motivo, uma cena perdida! E enquanto voltava, se arrependia. A cada pausa que dava, chorava, sorria. Desistiu da busca. Deixou-se levar pelos momentos, pelas passagens, atravessou o tempo. Se viu, o viu, viveu outra vez seus momentos... (Teve colo, teve parceria, teve amor, teve apoio, teve ajuda, teve tudo com ele.) ... ao voltar a fita, entendeu. Entendeu que durante esse tempo todo, era ele quem dava, partilhava, entregava. Ela só recebia, sentiu-se um "parasita" e ao se sentir assim, compreendeu... Ele não era mais aquele menino que dava tudo que tinha a ela, que a fazia se sentir a única mulher da face da Terra, ele havia amadurecido. Ela não tinha deixado de ser importante pra ele ou pra vida dele. Não tinha deixado de amá-la, querelá bem, não tinha deixado de sentir saudades, e sentia. Afinal, foram sempre tão próximos, tão íntimos, eram grandes e verdadeiros amigos. Ele só não era mais, "apenas um menino". Ele havia crescido, mas ela... "ainda não".
Por. Bell.B

2 comentários:

  1. Hey Bell, adorei o texto, parece que as coisas então começando a entrar nos eixos pra você, desculpa não está tão presente ultimamente, to meio sem tempo, mas sempre que der vou estar aqui lendo seus textos que eu amo! Um beijo.

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    1. Eu achei que estavam mesmo viu. rs Mas eu "só achei..."

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