26 junho 2012

Bonança (Talvez)


Pensou em pegar um ônibus, depois fez sinal para um táxi. Quando o carro parou a sua frente, antes mesmo de abrir a porta, fez sinal de que não o pegaria. O carro partiu, e ela continuou ali. (Com a mala na mão, a bolsa no ombro e os olhos tão molhados, quanto a rua pela tempestade que descia) Depois de um tempo parada, começou a caminhar na direção de casa. Andou por horas, tomou toda aquela chuva que despencava do Céu. Ventava muito, tanto que quando os pingos batiam contra o seu rosto, os fechava com medo de que as gotas os machucassem. A mala parecia pesar o dobro, embora não tivesse muito dentro, a chuva molhará o pouco e fazia com que ora e outra, seus dedos não suportassem o peso. (embora não pesasse mais, do que o pesar que carregava nos ombros naquele momento).


Faltavam alguns quarteirões para chegar em casa, a chuva estava mais amena e ela já estava ficando cansada de caminhar. (talvez por não fazer isso com frequência...) Estava ficando cansada de carregar a mala (pensou até em largá-la), estava cansada de se carregar. (por um triz, não atirou a si mesma em um lugar qualquer) Enquanto vagava de volta a sua casa, os pensamentos pareciam querer assombrá-la... "Eu sabia que não ia durar! Você sempre faz tudo errado! Eu não disse! Eu avisei! Impulsiva! Você não o merece"... quase gritou. Só não o fez, por se dar conta de que estava na rua. Estava na segunda quadra, quando por fim, olhou pra cima (tinha feito quase todo o trajeto, com os olhos voltados para baixo. E mesmo com os olhos fixados nele, sentiu durante todo o percurso, que não tinha chão) e avistou o prédio, sentiu certo alivio, mas este, logo fora interrompido por uma buzina e uma freada brusca e algumas palavras nada "gentis"... (um condutor alertá-la, por sorte ou por Deus, que ela estava parada, estática no meio da rua) ...ao ser chamada de volta a "Terra", continuou seu caminho. Ao chegar na faxada do prédio, puxou o ar o mais fundo que pôde e soltou um suspiro. Assim que colocou a mão no portão, o porteiro o destravou. A saldou com um sorriso largo e ela concentrou todas a tenção que pode aos seus instintos e com muita força, sorriu com o cantinho dos lábios e o saldou de volta. Ele lhe entregou algumas correspondências e enquanto apanhava, ele dizia algo, mas ela não conseguiu ouvi-lo. No momento "em pensamento", agradecia a Deus, por não dar aos "humanos" o poder de "ler mente". Ao que ele lhe desejou "boa noite", ela desejava que tudo a sua volta "se fodesse". Seguiu ao hall e notou os led's dos elevadores apagados. (Talvez tenha sido isso, que o porteiro tentava dizer, por conta da tempestade, a rua estava sem energia) "Merda!" disse ela (queria gritar, socar alguma coisa, brigar com alguém. Descarregar sua raiva, sua frustração, sua tristeza...), e foi em direção as escadas. Enquanto subia, o ar faltava, a mala parecia ainda mais pesada, seu corpo de repente começou a mostrar certo desconforto. Parou no 6 andar. Sentou-se no degrau e depois de uns 10 minutos, voltou a subir. Entre milhões de coisas que se passavam em sua mente, foi pega de surpresa por um e sorrio "Olha o que você me faz fazer...!".  E em voz alta, sem se preocupar com quem pudesse ouvir, repetiu. "Olha o que você, me faz fazer!". 8 andar. Abriu a primeira porta, a segunda, estava tudo escuro. Não muito diferente do que já estava, mas bem diferente do que esperava. Abriu a bolsa, apanhou o celular e com a luz do visor, iluminou a bolsa. Apanhou a chave, e abriu a porta e bateu a mão no botão. (esqueceu-se por alguns segundos, da falta de energia. Mas quando retomou a memória, junto, lembrou-se de uma terça-feira em que chegará na casa dele e baterá no botão. Também não tinha luz, mas lá havia sido proposital, agora não) Não conteve a emoção e pôs se a chorar. Com os olhos ardendo, o corpo tremendo por conta das roupas molhadas, foi tateando o corredor até chegar a cozinha. Pegou uma vela, acendeu e se despiu ali mesmo. Jogou tanto as roupas do corpo quanto as da mala na máquina (quase atira a mala na máquina, também).

No quarto, apanhou uma toalha, sentou-se na cama e sem saber que horas eram, pressupôs que aquela altura, ele certamente já teria lido a carta. O desespero a pegou de jeito. Ficou se perguntando se havia feito a coisa certa (no fundo sabia que sim, sabia que ele jamais pediria a ela pra se afastar, mas ela sabia que mesmo sem ele pedir, ele precisava desse tempo), se teria agido com coerência (sair daquela forma, mas de que outra sairia? Se o esperasse chegar, nunca partiria), se teria se precipitado (não, não tinha, era mesmo isso que tinha que fazer). Pensou em muita coisa, até que um raio iluminou todo o seu quarto e o estrondo do trovão, chamou-lhe atenção. Caminhou a passos lentos, quase que se arrastou até a janela e de pé, tremendo, gelada tanto por fora, quanto por dentro, postou-se diante a janela pra admirar a ira dos Deuses. Os raios pareciam dançar na chuva, os estrondos pareciam cantar pra ela, pareciam gritar, (seria ele, tentando dizer alguma coisa? Seria ele, dizendo que a perdoaria por isso, por aquilo, por tudo?). Parecia cair filetes de vidro do céu. Aquilo a acalmava, tanto quanto a intrigava. (ela parecia se ver de dentro pra fora, através da janela) Num repente a luz se acendeu, e ela voltou-se para dentro de casa. Só então se deu conta. As portas dos armários estavam todas abertas, o tapete do quarto estava enrolado ao pé da cama. A cama... sem lençóis, sem travesseiro... (deixará o travesseiro lá) ...tudo estava exatamente igual, a 25 dias atrás. (Faziam 25 dias que ela estava fora de casa, "droga, número impar, maldição")

Caminhou até a sala, apanhou o roupão que estava jogado no sofá, sabe-se lá há quanto tempo, vestiu e o encarou. (hoje seremos só você e eu Sr. sofá!) Nesta hora, uma lágrima cortou-lhe a face, e o choro rompeu como se uma inundação estourando a comporta de uma represa. Não teve forças pra chegar ao sofá, e sucumbiu-se a uma dor tão tamanha, que suas pernas não eram mais capazes de à sustentar. Encolheu-se, retorceu-se, adotou uma posição quase fetal. Queria espantar o frio, a angustia, o medo. O medo de estar perdendo, a angustia de talvez não ter feito tudo direito, o frio, que por mais quente que estivesse ali dentro, e seu corpo agora estive seco... a fazia tremer de tal jeito, que talvez se houvesse uma lareira ao lado de seu corpo, nem isso seria o suficiente pra frear o bater de seus dentes e o sacudir de seu queixo.

Precisava de um banho, precisava de uma cama macia e quente, precisava comer alguma coisa. Mas não precisava tanto de tudo isso, como precisava dele. Sem mais lutar contra tudo, e sem querer mais nada, agradeceu por chegar em casa (embora aquela, não parece mais sua.) sem ter cometido nenhuma bobagem.  E antes que perdesse a consciência, pediu a Deus que desse a ele, uma noite mais tranquila que fora a sua, que iluminasse sua mente e acalmasse seu coração. A Tempestade estava passando, e quem sabe pela manhã viesse a Bonança. E sem mais brigar contra o mundo, contra seus pensamentos, contra as suas atitudes, (Graças a Deus aquele dia tinha chegado ao fim... embora não estivesse preparada para o que iria surgir, ainda assim, agradeceu) adormeceu.
Por. Bell.B

2 comentários:

  1. Além de toda tristeza ainda lhe sobrou tempo pata agradecer, e pedir que o dia, a noite dele fosse melhor, muito lindo!

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  2. Brigada! Às vezes sou capaz de passar por cima da minha dor pra tentar amenizar a do próximo. rs

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