26 junho 2012

Íris-Dele


Abriu uma pálpebra de cada vez, um facho de luz, atingiu sua face em cheio. Num reflexo, levou as mãos contra os olhos, afim de protegê-los. Enquanto se espreguiçava, sentiu seus dedos dos pés gelados, o corpo todo dolorido, e o bocejo foi interrompido quando sentiu uma pontada forte na garganta. (talvez estivesse ficando resfriada) Se levantou de vagar, caminhou lentamente até o banheiro, e entrou no banho. Ficou ali por mais tempo do que o de costume. Enquanto a água batia contra sua face (numa temperatura, bem diferente das gotas da noite passada), ela fechava os olhos, passava as mãos no rosto, sentia o calor escorrer, gentilmente por todo seu corpo.  Por alguns minutos, sentiu-se bem, confortável, serena. Mas logo os primeiros sentimentos do dia despertaram, e com eles, seus temores e receios.

Já fora do banho, postou-se diante do espelho, completamente embaçado pelo vapor do chuveiro. Isso costumava irritá-la. Mas não fez menção alguma de limpar o vidro, ou sequer, queria se ver. Talvez tenha ficado de frente a ele, por puro hábito. Secou-se, escovou os dentes, ajeitou o cabelo e foi para o quarto. De frente ao guarda-roupas, ainda enrolada na toalha, abriu uma gaveta, apanhou um pijama e o vestiu. Não tinha nenhum programa para o dia, e mesmo que tivesse, não faria. O sol tinha acabado de nascer, estava fraco ainda, as nuvens o faziam parecer menos imponente, e quem parecia ter toda a majestade era o vento. Este soprava com tamanha força, que sacudia as janelas, e ora e outra, encontrava uma forma de invadir o cômodo e provocar nela, certo arrepio. Ajeitou-se na cama, puxou as cobertas e a sensação que ela tinha, era de quem acabará de chegar em casa, depois de um dia exaustivo de trabalho. (imagine, havia acabo de acordar, eram só 9:00 am, talvez por ter dormido muito pouco, estivesse com a impressão de que precisava dormir mais, talvez por estar deprimida, precisasse ficar menos tempo acordada)

Os olhos estavam tão pesados quanto seu corpo. E sua cama, agora parecia-se com um ninho, acolhedor e quentinho. Deixou as pálpebras repousarem, mas em momento algum, pegou no sono. Tudo que havia passado no dia anterior, passava como um filme em sua cabeça. Até as cenas que não viu, via. (Ele entrando em casa, tentando esconder sua depre, falando coisas aleatórias afim de camuflar a angustia que mesmo não declarada por ele, fora detectada por ela. Ele entrando em casa, procurando por ela, lendo a carta "maldita carta") No momento em que se lembrou do que deixou lá, escrito, seus olhos se abriram como num salto, e este mesmo pulo a alavancou da cama, fazendo-a correr até a sala. "Meu celular...?", revirou a bolsa, nada. "Pense... pense!", não tinha luz, havia usado ele como lanterna. "Na cozinha!" correu pra lá, e lá estava ele, em cima da pia.

Nenhuma mensagem, nenhuma ligação perdida. Só alguns números lhe exibindo o tempo, como quem a desafia. Respirou fundo, e enquanto colocava a água pra ferver, se perguntou. (ele teria lido e concordado, ele teria lido e se sentido aliviado, ele teria dormido? Teria passado a noite em claro?) Discou, mas antes de ligar, segurou o botão vermelho, (desligou o celular) enquanto via a tela apagando, sentiu o chão se abrir, se não tivesse se apoiada na beira da pia, teria caído. "Droga!", quando ia ligá-lo novamente, foi interrompida por sua própria voz. "Deixe-o, ele precisa desse tempo, você também já fez uso dele. Ele precisa fazer a escolha por ele... deixe-o pensar, refletir sobre seus temores, suas inquietas sombras". Passou o café, e sem soltar o aparelho "morto" em sua mãos, decidiu que ficaria uma semana longe, e rezando pra que ele fosse tão forte quanto ela, apanhou a xícara e bebeu ali mesmo.

Voltou pro quarto, tirou o pijama e vestiu algo mais leve, antes de se deitar, ligou o PC, foi até a pasta de músicas. A variedade era imensa, tinha vários artistas, milhares de faixas, mas escolheu uma única canção, e esta parecia estar sendo cantada "pra ela". Sentou se na cama, e as portas do guarda-roupas, ainda estavam abertas, subitamente foi arrebatada há um momento... (ela de pé no closet, em dúvida no que vestir, ele passando por ela, ficando pronto em minutos e ela ainda ali, de pé, de lingerie... tão admirada quanto com raiva, da capacidade que ele tinha em ficar pronto e encantador em tão pouco tempo)... em meio aquela situação que se encontrava, (nostálgica, sozinha, magoada talvez), conseguiu sorrir ao se lembrar do sorriso dele, de sua agilidade e graça em fazer as coisas, do seu olhar de admiração e contemplação ao que a olhava. Suspirou fundo porém devagar e cantou parte do refrão com os olhos marejados, o coração apertado e a voz meio rouca de quem ainda não acordará completamente. "I see your true colors and that's why I love you...". 

Apertou as almofadas contra a cabeceira da cama, tirou a toalha dos cabelos, e encostou. Tentou planejar algo, mas não estava com vontade alguma de fazer nada. Pensou em ler um livro, mas seus olhos estavam pesados e sua cabeça, doía demais. Pensou em ver um filme, mas teria que se levantar outra vez, ligar a TV e deligar o PC. Entre a busca pelo filme, e a canção que o trazia pra ela. Ficou com a música que repetidamente, cantava sua história, sua noite anterior de uma forma menos dolorida, mais doce, porém não menos sofrida. Ora e outra, uma lágrima escorria por sua face, menos intensas que outrora. Quase que passariam desapercebidas, senão fosse pelos suspiros longos que dava, ao que elas morriam entre seus lábios. Outra vez se pegou pensando nele, embora não tivesse parado um minuto sequer de fazer isso, desta vez foi diferente. Um raio de Sol invadiu o meio do quarto e sabe-se lá como ou porque, visualizou cores no filete. Um arco-íris (talvez), mas este não tinha sete, tinha 8 cores. Sorriu docemente, como quem se sente confortada, amparada, tranquila. Sorrio contando as cores e pra oitava deu o nome de "íris-dele". Não sabia o que ao certo acontecia lá, mas sabia que de alguma maneira, ele a sentia, a via, e estava ali, no meio do seu quarto, e entre todas aquelas cores reluzentes, a cor dos olhos dele.
Por. Bell.B

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