07 maio 2012

A Carta


Depois de ter picado todos os bilhetes que me deixou, ter jogado todos os livros que me arremetiam à você, fora. Depois de ter riscado com a ponta da navalha, todos os CD's que montei, pensando em nós... Apanhei sua ultima carta e fui até o lugar, aonde sempre íamos pra nos encontrarmos, mesmo quando apenas só um de nós, ia até lá.

Ventava muito, as ondas estavam inquietas, não tinha uma única nuvem no Céu. "Pensei" (Que bom, nuvens me lembram ele!). Logo sacudi a cabeça e soltei um palavrão. (Porra! Mesmo sem elas, eu estou pensando nele ¬¬) Acabei rindo e mais uma vez balancei a cabeça. Enfiei a mão no bolso do blusão, apanhei a ultima carta que tinha recebido dele, respirei fundo e antes de começar e reler resmunguei. (Devia ter queimado esta também!) Não sei ao certo porque não fiz isso com esta, talvez por tê-la sentindo bater mais fundo, com mais peso, talvez porque nestas ultimas linhas, eu tenha conseguido captar "enfim" a vontade e o verdadeiro sentimento dele. Passei os olhos de vagar, como sempre faço quando o leio. Tento apagar tudo da mente, gosto de ler/ouvi-lo em total silêncio. Os olhos foram espremendo as frases e extraindo das linhas, sentimentos. E enquanto eu usurpava do que lia os sentimentos, os meus se misturavam nos dele e me deixavam confusa.  

(Não vou dizer que não estou com lágrimas nos olhos escrevendo isso (tive que parar algumas vezes, acho que por isso que tudo está meio desconexo) e sei que vai estar quando ler... mas quero que fique bem, saiba que te desejo tudo de bom, de coração, você merece um futuro incrível que, momentaneamente, não vai mais contar com a minha presença...) (Eu também "parei várias vezes", sempre que voltava a ler, sentia um calafrio na espinha, um nó na garganta, um desespero sem fim.)


O  "ranger de um motor" me fez frear o choro que parecia querer romper a qualquer momento. Era bem familiar aquele barulho pra mim. Rapidamente apertei o papel e o enfiei novamente no bolso. Voltei minha atenção ao ruído que havia interrompido minhas emoções. Apertei os olhos com força, e assim fiquei por alguns minutos. (Silêncio) Parecia naquele momento, que o tempo estava parado. Não ouvi o barulho do mar, não senti as vibrações das ondas, nem mesmo o vento parecia soprar. Ameacei levantar para ver se o tal "barulho de motor" atrás da rocha que estava sentada, era mesmo do carro dele. (Não, não seja boba! O que ele viria fazer aqui, depois de tudo que lhe disse?!) Rangi os dentes, voltei a recostar na pedra enorme atrás das minhas costas e apanhei a carta. Não precisava ler, sabia de cor o que estava escrito ali. As lágrimas romperam e apertei com tanta força o papel, que o senti virar uma bolinha no centro da palma. Uma onda se formou e veio em minha direção. Ergui o braço o mais alto que pude e com o punho cerrado me preparei para atirar a bolinha, assim que a onda quebrasse. (Em vão) Não consegui. Me perguntei várias vezes o porque DIABOS eu não conseguia me desfazer daquele papel. Fiquei ali por horas, não sei dizer exatamente por quanto tempo.

Só me dei conta de que já não era dia, quando voltei a ouvir o "tal ruído familiar". Levantei correndo, nem lembrei de colocar o chinelo. Corri de encontro ao "barulho do motor" mas era tarde. (DROGA) O ar começou a não conseguir entrar, e conforme vi a luz do farol desaparecer enquanto o carro saia de ré. Senti meu coração quase parar de bater (ou bater tão de pressa que eu não soube identificar ao certo que tipo de batimento cardíaco estava tendo naquele momento). Eu fiquei congelada, exatamente no meio do caminho! Tinha que voltar pra apanhar o chinelo que tinha largado atrás da rocha, mas avistei um retângulo branco no lugar aonde o carro tinha estacionado. O vento começou a soprar novamente e o "tal retângulo" dançou umas duas vezes no ar. "Foda-se o chinelo!"

Corri o mais de pressa que pude e agarrei aquele pedaço de papel como um doente que encontra sua cura. (Deus... devo ler? Será pra mim? Caralho... eu devo estar ficando maluca! Não é pra mim, não é meu, é só um pedaço de papel!) Mas não poderia ser só um pedaço de papel, não poderia ser de outra pessoa, nem pra outra pessoa. Não naquele lugar, não no lugar aonde íamos pra nos encontrar, não ali! Ninguém ia lá. Era um lugar mágico, único. Nosso! Entre invadir a privacidade de alguém e matar a minha curiosidade. Segui meu coração. Soltei o bolinho de papel que apertei por quase o dia todo e lentamente desdobrei o retângulo. (Estava dobrado em 4 partes, meu coração batia descompassadamente só em contar as partes que aquele papel havia sido dobrado.) Antes de ler, e ao ver a caligrafia, os olhos começaram a marejar, o nó na garganta rasgou em soluços sem que eu pudesse controlar. Foi um misto absurdo de sentimentos...  "Raiva, (era do carro dele o ruído, devia ter me levantado e ido até ele.) Arrependimento, (por querer ser tão forte quanto ele, e dar a ele o que ele me pediu naquele "outro" momento.) Dor, (muita dor, dor no peito, dor na alma, dor no corpo inteiro. Uma dor que poucos são capazes de enxergar por trás do sorriso convincente que tenho.) Alegria... (ele não havia se esquecido, ele não tinha se esquecido de mim, de nós, do que tínhamos, do que temos)."

Eu li, reli, voltei a ler, do momento em que apanhei aquela carta, não consegui fixar os olhos em outras palavras, em nenhuma outra linha. Sorri, chorei, xinguei! Suspirei, respirei, sentei na beira do guarde reio e tudo pareceu a voltar a vida. As ondas pareciam cantar, o vento serenava meus cabelos e sussurrava em meus ouvidos. As estrelas cintilavam ao invés de brilhar. Até o peso em meus ombros e a dor que sentia na alma, sumiram... Não sei aonde foram parar aquelas chagas que pareci carregar por séculos. Li muitas vezes o conteúdo todo da carta, e enquanto lia aquele novo pedacinho de papel que não era, mas parecia mágico, não me dei conta de que a bolinha de papel tinha sido carregada pelo vento e já estava dançando entre água, na beradinha da praia. Quando percebi a falta, já estava longe, ia e vinha com a onda, mas eu estava tão encantada com a nova carta, que não queria romper a magia indo apanhar aquele outro pedacinho de papel, que havia roubado minha paz por tantos dias. Voltei a ler as ultimas linhas...

 " Sei que pedi que fosse, sei que fiz uma escolha, porém agora quero desfaze-la. Mas agora quero recomeçar do zero, dessa vez com mais solidez, as paredes de tijolos mais firmes, o muro de pedras... Será que ainda tenho esse direito? Tomara.
Com amor, Michael."


... Caminhei pra casa, descalça, sorrindo, com aquelas palavras ecoando em meus olhos, meus ouvidos, minha alma. Quem passasse por mim na beira da estrada e me visse daquele jeito, diria certamente que eu estava ou muito bebada ou muito drogada! (FODA-SE). Eu estava mesmo anestesiada, estava louca, estava dopada, estava tendo uma OVERDOSE de felicidade. Só queria chegar em casa e dizer a ele que (Sim! Que ele tem, que nós TEMOS esse direito!) E nada que me dissessem ou me fizessem, poderia roubar de mim aquele estado, um estado de paz de espírito, de êxtase. DE PAZ, que só ele é capaz de me fazer ter, viver, SENTIR!
Por. Bell.B

3 comentários:

  1. Que falar? Temos o direito, então vem meu amor, as flores estão no caminho, vem meu amor, vem dançar comigo ♫

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  2. Lindo texto, me lembrou essa canção! http://letras.terra.com.br/train/1583931/traducao.html

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    1. Ahhhh eu amo essa canção Grasinha! Fiz a tradu dela meses atrás.

      http://www.youtube.com/watch?v=rQoye6aXiAM&feature=plcp

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