24 maio 2012

Sozinha

 Ela caminhava sem rumo, os pensamentos vagavam tão aleatoriamente, que ela não era capaz de se fixar a nenhum deles. Um par de sandálias em uma das mãos, nada na outra. Às vezes usava a mão vaga, para ajeitar o cabelo atrás da orelha, quando o vento soprava um pouco mais forte e o jogava na frente dos olhos. Não gostava muito de caminhar (na verdade detestava), mas fazia isso sempre que seu coração apertava. (e embora não gostasse, fazia muito) Particularmente neste dia, não estava assim "tão" triste. Talvez estivesse acostumando-se a ideia de "caminhar" e por ser orgulhosa demais pra contrariar seus "supostos gostos" ou "concordar" com o que a maioria diz, sobre caminhadas (faz bem a saúde, você acostuma), acabava que inventando o tal do "preciso andar pra espairecer" . Enfim, seja lá qual o real motivo da jornada, lá estava ela na beira da orla, com seu vestido de tecido leve (viscose talvez), tão leve, que quando o vento batia contra ela com um pouco mais de força, precisava levar as mãos entre as pernas e impedir que ele subisse até sua cintura. Seria constrangedor, se não fosse engraçado. E isso aconteceu algumas vezes, e em todas elas, ela sorrio descontraída, cheia de charme e graça, como se tivesse apenas ajeitando o cabelo atrás da orelha (isso era quase um cacoete ou um toque, não sei). A maré subia enquanto o Sol parecia se esconder por trás da água salgada e gelada. As ondas quebravam na ponta da praia e tocavam seus pés (vinham como súditos rastejando até ela, era assim que ela pensava, quando a onda chegava aos seus pés), cada vez que água tocava a sola dos pés dela, ela acordava de um pensamento. Eram tantos pensamentos, eram tantas ondas morrendo aos seus pés. Sorria cada vez que sentia a água fria cocegar seus dedos. (na verdade sorria de si mesma, por gostar de algo que detestava, e cada vez que isso acontecia, dizia a si mesma o quanto se sentia maluca. Como poderia gostar da sensação da água gelada nos pés, se detestava o frio, detestava até mesmo, tomar água... maluca) Passava das 18:00 hrs, o vento soprava com mais força e agora era obrigada a segurar além das sandálias, o vestido (desejou ser um polvo, naquele momento. Assim poderia segurar as sandálias, o vestido e ainda ajeitar o cabelo, que com a força do vento, atrapalhava sua visão e entrava ora e outra, no cantinho de sua boca). Parou em um ponto cego, (não queria ser vista) antes de sentar, soltou as sandálias. Tirou do pulso um lacinho preto, prendeu os cabelos, tirou os óculos e pendurou na fenda do decote. Sorrio olhando pra quela imensidão de água, pro vento, pro som do nada/tudo que ecoava a sua volta, em seu ouvido, em sua mente (quase que purificando seus pensamentos, que até então, estavam tão aleatoriamente conturbados). Respirou fundo, e sentiu-se feliz por não estar pensando em nada. Nada que a deixasse inquieta, agoniada, desesperada. Sentou-se, viu o Sol terminar de se esconder e pensou, "bom menino, agora deixe a Rainha fazer a Corte"  mas a noite não estava digna de sua presença, ou talvez ela não estivesse disposta naquela noite. O Sol se recolheu, a Lua não apareceu. Ela toda cheia de graça, de sonhos, de desejos, sentou-se num canto ermo. Gostava de solidão, às vezes. Gostava da companhia de si mesma, quando não se julgava uma "boa companhia", mas quem a conhecia, sabia... que no fundo, o que ela mais queria naquele fim de tarde, era não precisar se sentir tão sozinha.
Por. Bell.B

2 comentários:

  1. "Respirou fundo, e sentiu-se feliz por não estar pensando em nada. Nada que a deixasse inquieta, agoniada, desesperada."

    Caramba, Bell! Esse texto me trouxe paz, sabia? Paz como eu não sentia há um bom tempo. Acho que me fez voar um pouquinho, ir pra outro lugar, descansar. Ficou lindo!

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    1. Que honra tê-la por aqui Thata! Fico muito feliz em saber que pude proporcionar em você, o que tenho sentido! Há muito, também... tinha me esquecido o que exatamente queria dizer a palavra "Paz". Seja sempre bem vinda aqui. Beijos

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