Pareciam querer me derrubar, me destruir. "Muito bem, você vai afastá-lo mais uma vez! Diz que tudo que faz, é pensando no bem dele, será mesmo que é? Ou será que faz isso por medo, por medo de realmente se permitir ser feliz, e por temer tanto a felicidade, afasta de si, as pessoas que ama? Idiota! Burra!" Abafei um grito contra o travesseiro e só o tirei do rosto, quando me senti sufocar. Alguma coisa sussurrou em meu ouvido, e eu não me lembro bem o que foi dito, mas lembro-me de ter aproximado meu rosto contra a fronha, e num momento súbito de lucidez, captei uma fragrância familiar. Escorreguei pela cama, agarrada ao travesseiro, a ele. Um nó subiu pela minha garganta, rompendo em lágrimas nos olhos. Chorei! Enquanto tentava controlar as emoções, não emitir nenhum ruído, inundava a fronha. Sacudi a cabeça, baixei o travesseiro e o abracei, como quem agarra sua ultima esperança. Foquei as linhas soltas. Os olhos começaram a arder e as frases suspensas no ar, começaram a se homogenizar. Formaram um borram de cores suspenso, no centro do quarto, e o sorriso bordou-se em minha face, me fazendo parar de chorar. Avistei no cantinho da cama (quase caindo) o celular, estava tão escuro seu visor, quanto a noite lá fora. Só Deus sabe o quanto desejei naqueles momentos que ele acendesse. Que tremesse, que um bip entrasse e me alertasse "mensagem". Estiquei o braço, o apanhei e por uns 10 minutos o segurei. Sabia que não deveria mandar mensagens, sabia que precisava deixá-lo pensar. (Pensar no que ele sentia, no que a minha carta, na quela altura, estaria lhe fazendo sentir...) Foi mais forte do que eu. A minha urgência, a minha pressa, a minha necessidade em tê-lo, sem me importar como, me fez começar a digitar. Sabia que ele não responderia. Não naquele momento, mas o fiz mesmo assim. Logo, sem mais lutar contra o sono, adormeci.
Os pássaros cantavam lá fora, o vento parecia querer estourar a janela. Antes mesmo de abrir os olhos, enfiei a mão debaixo do travesseiro e apanhei o celular. (somente a hora, acusava no visor) Apertei os olhos, resmunguei (acho que queria tentar voltar a dormir) e quando virei pra me ajeitar avistei em cima do travesseiro uma carta. Tirei um dos braços debaixo das cobertas, e senti o frio quase que congelar todos os músculos do meu braço. Com as pontinhas dos dedos, fui puxando-a até mim. Eu não notei, mas raios de luz salpicaram por todo o quarto enquanto eu sorria. Me sentei, antes de começar a ler pensei "obrigada, papai do céu... muito obrigada". O coração parecia querer pular do meu peito, se houvesse uma disputa entre ele e a bateria do Salgueiro, certamente a bateria da escola de samba teria levado 2 no quesito. As mãos tremiam tanto, que quase se podia jurar que eu estava tendo uma crise de hipotermia. Desdobrei a carta, e só em ver a caligrafia, o tic tac do relógio parou."Confesso que chorei lendo sua carta, uma, duas, três, quatro, cinco... até cair no sono, dormi sobre a mesa, acordei com o papel ainda grudado em minhas mãos. Na hora que acordei dei graças que escreveu a lápis. Sério. Se fosse a caneta seu choro teria borrado toda a carta"
Eu nem tinha terminado a primeira frase, mas já estava aos prantos. Um cheiro invadiu o cômodo todo. Enquanto lia soluçando, atropelando pontos, espaços, virgulas. Tentava reconhecer o perfume no ar, sorria. Li, uma, duas, três, quatro vezes. Mas li duas vezes mais a parte em que dizia "Quando terminar de ler pela segunda vez (lembrei do lance de termos muito de numero 2 em nossas vidas) desça as escadas." Café! O perfume era café. Quando reconheci, tive certeza de que ele havia compreendido. E embora tivesse, isso não tinha mudado o que tínhamos. Dei um salto da cama, com a carta na mão e só quando estava no corredor, foi que me lembrei da observação. "Ah, coloca um roupão por cima do pijama, ta meio friozinho hoje..." Voltei correndo pro quarto, apanhei o roupão e ainda vestindo, desci. Quando faltavam uns 6 passos pra avistar a porta. Parei. (Me lembrei que não tinha penteado o cabelo (devia estar a cara do Simba ¬¬), não tinha escovado os dentes, tinha deixado um par da meia na cama... quase subi pra me arrumar. Mas eu precisava, tão mais encontrá-lo, do que me arrumar pro encontro. Que a minha vaidade perdeu feio pra minha necessidade)
Por .Bell.B
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