25 maio 2012

Sweet Morning

Olhei o relógio e ele pareceu me encarar imponente. Parecia zombar da minha inquietude, da minha agonia. Joguei o dorso contra a cama, apanhei o travesseiro e o apertei contra o rosto, na tentativa frustrada de acalmar o coração. Contei até dez, disse a mim mesma "respire... vai ficar tudo bem" e bem devagar, fui tirando o travesseiro do rosto. As ultimas linhas pareciam estarem estampadas por todas as paredes do meu quarto. "Pense nisso, pense em você. Hoje não quero que pense em nós. Faz isso por mim? ... a chave esta em cima da mesa, mas não venha hoje. Fique, pense... e amanhã, me acorde com um beijo doce" Um desespero sem tamanho, foi subindo por todo meu corpo. Os ossos pareciam estalar, minha cabeça não parava de girar. Eu puxava o ar, mas não conseguia respirar. Frases soltas começaram a se misturar entre as que já estavam ali, saiam da minha mente e se alinhavam diante dos meus olhos.

Pareciam querer me derrubar, me destruir. "Muito bem, você vai afastá-lo mais uma vez! Diz que tudo que faz, é pensando no bem dele, será mesmo que é? Ou será que faz isso por medo, por medo de realmente se permitir ser feliz, e por temer tanto a felicidade, afasta de si, as pessoas que ama? Idiota! Burra!" Abafei um grito contra o travesseiro e só o tirei do rosto, quando me senti sufocar. Alguma coisa sussurrou em meu ouvido, e eu não me lembro bem o que foi dito, mas lembro-me de ter aproximado meu rosto contra a fronha, e num momento súbito de lucidez, captei uma fragrância familiar. Escorreguei pela cama, agarrada ao travesseiro, a ele. Um nó subiu pela minha garganta, rompendo em lágrimas nos olhos. Chorei! Enquanto tentava controlar as emoções, não emitir nenhum ruído, inundava a fronha. Sacudi a cabeça, baixei o travesseiro e o abracei, como quem agarra sua ultima esperança. Foquei as linhas soltas. Os olhos começaram a arder e as frases suspensas no ar, começaram a se homogenizar. Formaram um borram de cores suspenso, no centro do quarto, e o sorriso bordou-se em minha face, me fazendo parar de chorar. Avistei no cantinho da cama (quase caindo) o celular, estava tão escuro seu visor, quanto a noite lá fora. Só Deus sabe o quanto desejei naqueles momentos que ele acendesse. Que tremesse, que um bip entrasse e me alertasse "mensagem". Estiquei o braço, o apanhei e por uns 10 minutos o segurei. Sabia que não deveria mandar mensagens, sabia que precisava deixá-lo pensar. (Pensar no que ele sentia, no que a minha carta, na quela altura, estaria lhe fazendo sentir...) Foi mais forte do que eu. A minha urgência, a minha pressa, a minha necessidade em tê-lo, sem me importar como, me fez começar a digitar. Sabia que ele não responderia. Não naquele momento, mas o fiz mesmo assim. Logo, sem mais lutar contra o sono, adormeci.

Os pássaros cantavam lá fora, o vento parecia querer estourar a janela. Antes mesmo de abrir os olhos, enfiei a mão debaixo do travesseiro e apanhei o celular. (somente a hora, acusava no visor) Apertei os olhos, resmunguei (acho que queria tentar voltar a dormir) e quando virei pra me ajeitar avistei em cima do travesseiro uma carta. Tirei um dos braços debaixo das cobertas, e senti o frio quase que congelar todos os músculos do meu braço. Com as pontinhas dos dedos, fui puxando-a até mim. Eu não notei, mas raios de luz salpicaram por todo o quarto enquanto eu sorria. Me sentei, antes de começar a ler pensei "obrigada, papai do céu... muito obrigada". O coração parecia querer pular do meu peito, se houvesse uma disputa entre ele e a bateria do Salgueiro, certamente a bateria da escola de samba teria levado 2 no quesito. As mãos tremiam tanto, que quase se podia jurar que eu estava tendo uma crise de hipotermia. Desdobrei a carta, e só em ver a caligrafia, o tic tac do relógio parou.

"Confesso que chorei lendo sua carta, uma, duas, três, quatro, cinco... até cair no sono, dormi sobre a mesa, acordei com o papel ainda grudado em minhas mãos. Na hora que acordei dei graças que escreveu a lápis. Sério. Se fosse a caneta seu choro teria borrado toda a carta"

Eu nem tinha terminado a primeira frase, mas já estava aos prantos. Um cheiro invadiu o cômodo todo. Enquanto lia soluçando, atropelando pontos, espaços, virgulas. Tentava reconhecer o perfume no ar, sorria. Li, uma, duas, três, quatro vezes. Mas li duas vezes mais a parte em que dizia "Quando terminar de ler pela segunda vez (lembrei do lance de termos muito de numero 2 em nossas vidas) desça as escadas." Café! O perfume era café. Quando reconheci, tive certeza de que ele havia compreendido. E embora tivesse, isso não tinha mudado o que tínhamos. Dei um salto da cama, com a carta na mão e só quando estava no corredor, foi que me lembrei da observação. "Ah, coloca um roupão por cima do pijama, ta meio friozinho hoje..." Voltei correndo pro quarto, apanhei o roupão e ainda vestindo, desci. Quando faltavam uns 6 passos pra avistar a porta. Parei. (Me lembrei que não tinha penteado o cabelo (devia estar a cara do Simba ¬¬), não tinha escovado os dentes, tinha deixado um par da meia na cama... quase subi pra me arrumar. Mas eu precisava, tão mais encontrá-lo, do que me arrumar pro encontro. Que a minha vaidade perdeu feio pra minha necessidade) Foda-se! Fui pisando de levinho, como quem ensaia uma apresentação do "Lago do Cisne". De pé na porta, o vi sentado, já com a mesa do café posta. "Doce dia Amor!" E o sorriso que ele estendeu ao me ouvir, coloriu a cozinha toda. Me aproximei, dei um selinho demorado e sentei-me ao seu lado. "Não sabe como é bom tê-lo aqui..." (e apontei o centro do peito sorrindo).
                                                                               Por .Bell.B

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