O sorriso estava doce, as maçãs de seu rosto, estavam levemente coradas, devido à temperatura elevada daquela manhã (na verdade dos últimos dias, há muito não chovia). Aparentemente tranquila (só aparentemente), postou-se em um canto de sua casa, que adorava ficar quando os pensamentos a inquietavam, quando sentia nostalgia, quando as duvidas a perturbavam, quando os sonhos não permitiam seu despertar.
Havia passado grande parte o dia debruçado na janela,
observando a vida passar diante de seus olhos, vendo o momento exato em que o
sol se recolheu, dando espaço as nuvens que chegavam praticamente arrastadas
pela força dos ventos. Que agora, assobiavam entre as arestas da janela e
sacudiam as cortinas como se fosse arrancá-las do varão (ela adorava sentir a
força do vento em seu rosto, adorava sentir seus cabelos revolverem sem
controle, adorava fechar os olhos enquanto aquela força oculta acariciava sua face, sentia-se viva). A vista de sua janela era bastante
convencional (típica de metrópoles), embora pudesse avistar parte da rodovia
principal, os dois shoppings Top’s de seu bairro e até o telhado da Catedral da
Sé... (a Catedral... quantas, tantas vezes se imaginou em uma entrada triunfal
naquela igreja) ...Não havia nada extraordinário ou fenomenal ali, além desses pontos
que “como pequenos pontos” podia avistar, mas mesmo assim, ela gostava de ficar
ali. De “perder” algumas horas, ora e outra, vendo o vai e vem dos carros, as
luzes se acendendo conforme o dia partia para a tão esperada chegada da noite.
(e como ela adorava a noite e com isso, ainda mais ficar naquela janela).
Já estava ali por horas, não tinha escolhido um ponto
exato mas seus olhos estavam tão fixos, que poderiam jurar que ela avia sido
hipnotizada. (talvez estivesse mesmo, quem é que sabe?!) Ela olhava
concentrada, não no que via, mas no que sentia, e o que sentia, a fazia ver
além do que meros olhos “mortais” eram capazes de avistar. Somente seus olhos (sonhadores,
crentes, atrevidos) poderiam traduzir o que de fato ela via naquele vazio que
parecia tão mágico. E era gostoso olhar pra ela, e vê-la tão compenetrada
naquele espaço ilimitado. Era gostoso olhar seu olhar sorrir para os espaços
vagos, como se ali, no nada, estivesse armado um circo com domadores e
palhaços. Era intrigante vê-la ver adiante, o que por mais que se tentasse, não
se via em lugar algum. Seus olhos eram como aquelas canções, que escondem
sentimentos omitidos. Eram como aqueles presentes simplórios, que não são caros, mas inestimáveis no valor sentimental. Seus olhos eram como poemas, aqueles que
quando lemos de primeira, ficamos com a sensação vaga de que á mais entre as
linhas. Seus olhos eram como areia fina, aquela que escorre por entre um vão
tão pequeno, marcando, contando, passando pelo tempo. Seus olhos eram como uma
passagem, um portal, como uma janela secreta. Por onde ela vinha, ia, ou
simplesmente ficava. Não importando o ambiente ou o cômodo em que estava. Através
daqueles círculos castanhos, mesmo sem sair do lugar, ela o encontrava.
Por. Bell.B
Olhos são realmente portais. Nota-se que os seus, bem mais. Castanhos? Imagino a graça que não os tem. Certamente não deixam nada a desejar aos tão cobiçados azuis.