14 abril 2012

A Dança




Leu, releu, remoeu as palavras. Não conseguia digerir uma unica linha. E tentou... mas desta vez, não foi capaz. Evitou o computador. Não queria sentar ali. Não queria voltar a "tentar" entender o que não era capaz de aceitar. Saiu, andou aleatoriamente, acabou parando no shopping. Se perguntou o que fazia ali. (Não queria estar ali). Algumas horas na rua, mas a mente continuava em casa. Lendo, relendo, remoendo as palavras. Sacudiu a cabeça várias vezes, afim de desaparecer com aquelas linhas de sua mente. (Bobagem... outra vez não foi capaz) Voltou pra casa, sentia-se pesada. De fato estava. Carregava tanta coisa na cabeça, que seu coração parecia pesar TONELADAS. Entrou, atirou a bolsa no sofá, e foi até a cozinha. Abriu a porta da geladeira e apanhou a jarra. Serviu-se mas enquanto bebia, parecia estar engolindo não o suco, mas os limões inteiros. Deixou o copo na beira da pia e seguiu pro quarto. Se jogou na cama, a tela totalmente NEGRA. Puxou o ar o mais fundo que pode, esticou o braço para alcançar o travesseiro. (Jogou-o na cara) Ficou por menos de 4 segundos, mas pareceu-lhe horas soterrada. Sentou-se, pensou em ligar o PC. Desistiu. Sabia que se fizesse isso, passaria mais um dia lendo, relendo, remoendo aquelas malditas palavras. Elas ecoavam em sua mente como se fossem fantasmas. Decidiu então ligar o som. Antes mesmo de ver o que estava no aparelho, aumentou o volume e sem pensar clicou. "PLAYER". Quase se arrependeu. "QUASE". A introdução começou, o nó na garganta aumentou, fechou os olhos...

... A pontinha de seu dedão do pé foi quem deu o primeiro passo. Em seguida, içou um braço pra frente o outro pro lado. Um, dois rodopios no centro do tapete do quarto. O som estava muito alto, não detectou o barulho da chave. A janela aberta permitia que o vento entrasse libertino e atiçasse seus cabelos. Ora e outra, levava a ponta do indicador, para tirar os fios que invadiam sua boca enquanto cantava e sorria "... só sei dançar com você ...♪". Ele de pé, com o ombro encostado no batente da porta e com um sorriso quase doce a observava. Ela parecia flutuar, usava cada centímetro do quarto, até que sentiu uma mão amparar sua cintura, a outra a puxou pra perto de algo que lhe era familiar. Quase abriu os olhos. Mas ficou com medo de acordar. Puxou o ar bem de vagar, ajeitou-se entre aquele calor acolhedor e se permitiu conduzir. Embora o som estivesse alto, foi capaz de ouvi-lo cantar "...  isso é o que o amor faz ...♪ ". Por mais que quisesse não era capaz de impedir que as lágrimas rolassem. Queria ser capaz, queria poder fingir que tanto faz. Ela não podia. Não diante dele. Não com ele. Perto dele, por mais que tentasse não ser ela. A única coisa que ela sabia ser, era só quem era. O abraçou apertado, tão apertado que se o vissem ali dançando, poderiam jurar que não eram um par. Eram tão parecidos, eram tão um do outro, eram tão singular que nem mesmo quando diziam não ser, conseguiam ser só. Enquanto as lágrimas dela escorriam, ele a conduzia pelo cômodo, não ergueu o rosto dela, mas sabia que ela estava chorando. Ele não chorou, não por aquele momento. Havia chorado antes, por muitos outros motivos. Em reposta as lágrimas que rompiam nos olhos apertados dela, batia o coração dele, completamente descompassado. Parecia querer pular de seu peito. E ela sabia que ele não queria sair do peito dele por ela, mas pra longe dela. Quase olhou pra ele, mas ainda não. Não podia acordar, não ainda. Dançaram por horas a mesma canção. (Não foi por horas, mas a sensação era de que tinha sido...)

(Ela tinha mania de deixar no "repeats" as canções preferidas) entre uma nota e outra, o romper da emoção. Quatro anos passaram em sua mente por 24 minutos. Tempo de tocar 4 vezes a mesma faixa. Sem querer, enquanto rodopiava, bateu com a mão no aparelho e assim que a música parou, seus olhos se abriram. A cortina ainda balançava, o computador ainda estava desligado, já não era mais dia, e as luzes das janelas vizinhas estavam desfocadas (talvez pelo tempo que ficou de olhos fechados). Silêncio. Ninguém havia aberto a porta. Sentou-se na cama, e sem mais tentar controlar, permitiu que o nó descesse pela sua garganta. Chorou o que nunca pensou chorar. Sentiu o peito apertar, a cabeça doer, o coração latejar. Poderiam jurar que aquele choro era de quem acabará de perder um parente. Não era, não o choro dela. Aquele era um choro sentindo, pra muitos sem o menor sentido. Era o choro de quem perde algo que um dia, achou ter tido (Será que teve? Será que perdeu? Será que um dia encontrará?). Era um choro doido, ferido. Calado! Um choro cheio de perguntas, baseado em respostas das quais Ela nunca saberá ou entenderá. Talvez se ela tivesse respondido, talvez se tivesse explicado, talvez se tivesse dito algo... talvez se Ele soubesse o quão difícil era também pra ela, ele à tivesse perdoado.
Por. Bell.B

Um comentário:

  1. Perfeito Bell, acho que foi um dos melhores que já li até hoje, também já me senti desse jeito, não sei se passou, se ainda ta guardado dentro de mim, mas prefiro assim, seria muito incomodo passar por tudo de novo!

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