01 maio 2016

Receios


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Você que fugiu, chorou, se escondeu de você mesmo que também tava indo embora… Gritou, berrou, escreveu umas coisas idiotas, achou que era impossível avançar quando já se encontrava do outro lado de si. Você que emburreceu a emoção procurando ser inteligente, mas que agora está conseguindo fazer as escolhas certas, de alguém que tem orgulho do que és e do que alicerçou até aqui. Sobrevivido. Fôlego novo. Onde é que se escondia essa pessoa que eu não conheço, mas que eu sentia tremer as pupilas de sobrevivência? Alguma voz nunca te gritou “tá aqui, por dentro”? Que medo é esse de desaprender todos os teus limites? É tão bonito quando a gente fecha os olhos só pra abrir de novo e levar um susto e outro susto e outro susto. Impossível querer passar por toda uma vida oceânica com receio de molhar a ponta dos pés...
Por. Michael Letto

2 comentários:

  1. ... impossível molhar somente a ponta dos pés.

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  2. "... às vezes ele se senta na janela. Tomando uma estranha combinação de chá de erva doce com limão e pimenta do reino moída na hora que ele jura que é ótima, a melhor invenção do século. E ele pensa no frio. E ele sente falta daquela lareira da casa velha. Ele chegou num ponto que não consegue sair (metaforicamente falando) da posição fetal em que se encontra. Nada mais anima. Nada mais tem graça. Vive apenas por viver. Já buscou outros lábios, outras bocas, outras lareiras, outros tapetes nos mais variados formatos. O céu estrelado era uma afronta. Fechou a cortina. Saiu da janela. O chá esfriara e ele bebeu num só gole. Se meteu debaixo das cobertas ouvindo rádio suíça de música clássica. Amanhã começava outra semana filha da puta. Mais uma pro currículo..."


    ps.: perdi meus contatos do cel (deu pau no cartão, mas fui na loja e mantive o número), logo... se quiser chamar, não prometo nada além de uma dose de chá morno.

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