07 maio 2016

Cristal



E como era de se esperar, tudo voltou a descolorir. Embora frustrante, nada naquela situação toda, era novidade. Talvez por ela já estar acostumada há de uma hora pra outra, se deparar com a mistura homogênea da paleta que transformava tudo num único tom. (ou na ausência delas) Carma? Castigo? Destino? Chega! Não mais queria saber sobre isso. Todas as suas tentativas acabavam sempre da mesma forma (disforme).

Essa caminhada era sempre longa demais, e sempre acabava da mesma forma (círculos). A merda nisso tudo era que mesmo tendo o dom de prever a desgraça, acabava sempre indo até o final, onde a navalha, meticulosamente lhe cortava os pulsos. De duas, uma. Ou era muito idiota ou muito masoquista. Mas no seu ponto de vista particular, não era nem uma coisa nem outra. Era mesmo crente. Guerreira. Acreditava sempre que embora a vida inteira dissesse que os contos de fadas não existissem e que seu sonho sempre fora encontrar alguém completamente inverso aos príncipes da Disney, no fundo, bem lá dentro, era somente isso que não só queria como precisava, ser a Donzela da masmorra que o Herói salva .

Porém, essa ultima experiência definitivamente a fez ruir.  Seu castelo de cartas se ergueu sobre areias movediças. E como esperar que desta vez fosse dar certo? Porque acreditar que ele seria diferente, quando tudo indicava que seria exatamente igual? Padrões, pesquisas, experiências, seu “desconfiometro”. Porque diabos insistiu em dar oportunidade, chance? Dezenas de perguntas a levavam as mesmas respostas de sempre. E essas respostas a faziam sentir pior, muito pior que às vezes anteriores. Outra vez ela estava aos cacos, espalhada no centro do tapete da sala, com o olhar mirado para o teto com sua playlist suicida tocando repetidamente e sentindo o ódio voltar a aquecer seu coração (calejado, cansado, fraco).

Passou a madrugada assim. Entre a pausa de uma música e outra cerrava os punhos, mordia o lábio inferior e desta vez, não se perguntava, ordenava. “Seja forte, volte, recomponha-se”. Sentiu lá no fundo que conseguiria, mas ainda não estava pronta pra se por de pé. Precisava de mais tempo. Precisava deixar aquilo doer, pulsar, lhe queimar por dentro (talvez esperasse que ele aparecesse, ligasse, implorasse perdão, talvez no fundo de todo aquele ódio, ainda houvesse esperança. Ela odiava talvez, odiava espera, se odiava por pensar ou querer pensar que pudesse haver uma maneira de tudo isso se consertar. Uma vez lhe disseram que "uma vez um cristal partido, nunca mais ele seria inteiro". Ela estava em estilhaços, espalhados e sem ninguém além dela, pra juntar os pedaços). Queria inflamar e sentir tudo literalmente incendiar junto com as roupas, e livros e discos e toda a quinquilharia que ficou pra trás quando a porta bateu. Decidiu (outra e de novo e mais uma vez) que ela não havia nascido para o amor. Entendeu que não importam os cortes de cabelo, o formato das barbas, o perfume ou mesmo a classificação na sociedade. Todos são exatamente iguais. Todos pensam de uma única forma e pra ela, isso era demais.

Silhuetas, temperaturas, comprimento do cabelo, cheiros... Pra vocês, a única coisa que difere é tempo, disponibilidade, oportunidade, CHANCE. Se puderem, se conseguirem, não são capazes discernir uma trepada de uma noite de várias outras noites de amor. Não conseguem resistir a tentação, a ereção, ao tesão. Pra mim... O cuidado, o respeito, a parceria, fazem toda a diferença e é o que te levará a viver e conviver com alguém por uma vida inteira. Infelizmente pra você, o que foi considerado foi uma boceta. Volto a repetir. Espero que tenha valido a pena. 

Se levantou, acendeu um cigarro e colocou a água pra ferver, precisa de um café. Enquanto a água fervia, seus pensamentos borbulhavam. Seus olhos se aprofundavam no vazio frio através da janela... Estava de volta. Ela, o tom cinza, seus devaneios, desejos, sonhos e a vontade louca de ser encontrada enquanto seus olhos se perdiam.
Por. Bell.B

3 comentários:

  1. Demorei, mas... mas... sabia que parei de pensar no conceito dualista de certo e errado? Vou lá, faço e depois páro pra pensar se fiz merda rs

    Enfim. Vou facilitar, ei-lo: http://cronicasdelu.blogspot.com.br/2016/05/para-quedas.html

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  2. É impressionante a capacidade de prender que vc tem garota. Fazer imaginar e projetar com precisão o que escreve. Dai, a sede de mais é incontrolável. Adoro teus textos. Teus sentimentos traçados.

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  3. A observou por horas, era inquietante todo aquele silencio. Sem duvidas, daria um terço de sua vida pra saber o que se passava dentro daquela cabecinha.

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