Acordou sentindo uma enorme sensação de perda. Já passavam das
16:00 e um pouco mais tarde, tinha uma festa. Não estava com vontade alguma de
ir, alias, não estava com vontade de nada. Queria continuar deitada, mirando a lâmpada,
projetando seus sonhos naquele teto tão sem vida e sem graça. O telefone
disparou, deixou tocar
(odiava ter que falar logo que acordava).
Depois de uma curta pausa, voltou a chamar. Colocou o travesseiro sobre a
cabeça e com toda sua força, desejou que ele parasse...
(Parou! Achou momentaneamente que
sua prece tinha sido atendida) Em
vão, agora tocava o celular. Bufando, sentou na cama, apanhou o aparelho e
viu no visor quem estava a incomodar. Sem qualquer delicadeza, jogou-o dê lado,
foi ao banheiro, escovou os dentes, e em seguida foi a cozinha fazer café...
(seus rituais de sempre para
acordar).
Com o café em uma mão e o cigarro na outra (pra variar), recostou na
parede e fitou a rodovia ao longe. A cada gole ou trago, tentava imaginar a que
horas do dia seguinte ele partiria. Pressupôs que seria logo nas primeiras
horas do dia seguinte. Uma lágrima atrevida cortou sua face e antes que mais
fizessem o mesmo, sacudiu a cabeça, colocou a xícara na pia e se pôs a cumprir
algumas tarefas. Não gostava de sair de casa e deixar coisas por fazer. Enfim,
ajeitou algumas coisas, arrumou a cama, abriu o guarda-roupa e escolheu o que
vestir. Arrumou a roupa em cima da cama, foi para o banho, trocou-se e saiu. (foi para a droga da festa). Embora tivesse escolhido algo
casual/simples, estava muito bonita. Chamando a atenção dos olhares "famintos" para variar. Mas como estava longe
demais, para "notar" estar sendo "notada"...
Nem se deu conta dos olhares a mirá-la. Conversou com algumas pessoas, sem
perceber, desfez de outras, e ao concluir que enfim, "já havia feito social
o suficiente para ir embora", se despediu e voltou pra casa.
Tinha dormido a maior parte do dia, e mal devido a constante insônia
que teimava em perturbá-la sempre que ia se deitar. Estava um pouco embrulhada
por conta das coisas que empurrará garganta abaixo na festa e pesada devido a algumas
sensações que sequer, sabia explicar. Entediada, chateada, recostou os
cotovelos na janela. Agora os faróis distantes, pareciam golpear sua vista, as
luzes dos prédios se misturavam, parecendo se contorcer diante de suas retinas.
Os olhos ardiam, o peito apertava, os lábios tremiam. Ventava forte e uma fina
garoa caía, mas seus tremores não vinham do "clima".
Encarou o relógio e ele autoritário encarou-a de volta exibindo 22:01. Fez uma
careta enorme para aquele número detestável, olhou por sobre os ombros e
mirou o PC. Sentou-se de frente a ele, e pensou se daria tempo de escrever e
ele ler/ouvir antes de partir. Soltou um palavrão... não daria. Provavelmente,
ele já estaria com o PC desmontado, encaixotado e rolando na cama a espera da
hora de partir. Sentiu-se ainda mais angustiada. Tinham se falado a semana toda,
todos os votos de "vitória
e sorte" já haviam sido
enviados, mas a porra do "falta algo" sempre a perturbava. Abriu o e
mail, mas não escreveu nada, apanhou o celular, digitou algumas palavras, mas
não enviou. Teve medo de acordá-lo caso já estivesse dormindo, ou deixá-lo
ainda mais ansioso, caso ainda não tivesse pego no sono. O que faria, logo seria dia 20/01/2013 (a data marcada da partida, nunca até aquele dia, tinha detestado tanto um número par) teria tempo? E antes
mesmo que a resposta viesse...
... estava correndo, correndo contra o tempo! Como se estivesse
numa busca frenética pela cura de uma doença letal, ou como se estivesse
fugindo de um crime. Faltava o ar, faltava força, falta tempo. Maldito tempo,
tempo cretino. E sem se importar com tudo que naquela hora lhe faltava,
continuam correndo. Já estava claro quando chegou na esquina da casa dele.
Faltavam agora, apenas alguns metros, de onde estava, podia ver o portão e a
árvore. Parte do cantinho que ele avia apelidado com o nome dela há alguns anos
atrás. Não tinha mais forças para correr, e a cada dez passos que dava a
caminho do portão, a impressão que tinha, eram de que ele se afastava 20. Como
num filme, milhões de cenas passaram de uma só vez em sua mente. As brigas, as
alegrias, os momentos de aflição, de união, os momentos juntos, os que nem se
falavam, tudo. Tudo de trás pra frente. Só voltou a si, quando bateu a mão no
portão e sem fazer qualquer esforço, o viu se abrir.
O silêncio ali era tamanho, que parecia ecoar dentro dos seus ouvidos,
refletindo as sensações de seu peito. Parecia bater com a mesma força de seu coração. Ricocheteava
em seus olhos de tal maneira, que nem mesmo se rasgando em prantos, era capaz
de se sentir menos pesada, aliviada. O nó em sua garganta, quase que a
sufocava. Doía. E era uma dor tão doída, que precisou sentar-se no batente da
porta para se recompor... Ao menos para conseguir voltar para casa. Não teve
tempo, não deu tempo. Ele já havia partido. Aquele lugar estava recheado de tantas
lembranças, quanto do vazio. A sensação que tinha, era de que tinham lhe roubado o “elixir da vida”. Ao se recompor,
voltou pra casa. Tinha tão mais a
dizer a ele, tão mais a desejar, tão mais a falar... Não chegou a tempo.
Ao entrar em casa, o visor do celular estava aceso
(uma mensagem), resmungou pelo número e
torceu o cenho. Seu corpo estava destruído, seu estado emocional em ruínas, os
olhos ainda ardiam. Mas sua curiosidade era maior que sua fadiga. Apanhou o
celular...
“... quando tudo parece turvo, obscuro, desfocado eu fecho os olhos e te
vejo/sinto/ouço me animando e dando apoio... por isso que te amo, mesmo sendo
assassina de molinhas (tem isso blog)... doce dia Mo, te amo S2”
... aquela
tinha sido a primeira vez em toda sua vida, que sorrira para um número "impar... (1 mensagem)" . Chorou,sorriu, o xingou de
tudo e de todos os palavrões possíveis e inimagináveis. Ela não
conseguiu se despedir, ele já havia partido. Mas existia entre eles esse poder mistico. Saber a hora exata em que um precisava do outro, e para isso, não era necessário muita coisa, pois seus fins, sempre justificavam seus meios.
Por. Bell.B