04 outubro 2013

Tempestade



Não conseguiu dormir direito aquela noite. Na verdade não dormiu foi é nada. Virava se revirava na cama, doida, desesperada para dar a resposta que ecoava em sua cabeça fazendo coçar da ponta de sua língua ao céu da boca. Por várias vezes se levantou e feito uma alma penada, andou pelos cômodos escuros da casa. Parava na janela, o vento batia contra sua face fazendo com que seus cabelos ficassem ainda mais emaranhados do que já estavam. Pareciam refletir seus pensamentos de fora pra dentro. Estava num estado meio nostálgico, meio revolto... Não conseguirá durante aquela noite, decifrar exatamente o que sentia. Talvez tenha sido, um dos piores momentos que já passará (com) sem ele. Quando voltou pra cama, o sol já quase raiva, ainda tímido e sem forças, por trás das carregadas nuvens acinzentadas. Certamente aquele dia choveria, faria frio, talvez até caísse um temporal. Não seria lá fora, tão diferente quando dentro dela. Vencida pela estafa mental e as necessidades fisiológicas do seu corpo, rendeu-se. E como há muito já não fazia, naquele dia, dormiu com o celular na cama.

Algumas horas depois, já estava de pé, passando o café e com outro cigarro na boca. O cinzeiro denunciava escancaradamente sua noite de insônia. Estupidamente acendia um cigarro atrás do outro, na esperança de encontrar luz, na brasa incandescente que ao contrario de sua esperança, além de não clarear ideia alguma, escurecia ainda mais seus pulmões, que na altura do campeonato, já desconheciam quaisquer tons de vermelho sangue que desse qualquer sinal seguro de saúde ou vida. Foda-se... Nunca importara-se com isso. Até temia parar no purgatório, devido a relatos sobre "fumantes automaticamente serem suicidas". Mas nem mesmo o medo a fazia parar, e em casos como os que se encontrava, ai é que se assegurava de garantir sua vaga VIP premiada no limbo. Estava cansada, cansada em todos os sentidos. Com o cigarro entre os dedos e o café na mão, leu mais uma vez a mensagem. Acendeu outro cigarro, respirou fundo, apoiou os cotovelos sobre a mesa, baixando a cabeça sobre as mãos. Talvez tenha feito um prece, talvez tenha descansado os olhos, talvez tenha formulado a resposta. Quem sabe decidiu encontrá-lo?

Ergueu a cabeça, inspirou... Não se permitiu chorar e realmente não chorou naquele instante. Colocou mais café, tomou desta vez sem o acompanhamento do cigarro, apanhou o celular, o encarou por alguns instantes, apagou a mensagem e o desligou. Voltou pra cama deixando-o em cima da mesa. Assim que se ajeitou, trovões começaram a estrondar e os raios a riscar o céu do lado de fora. Encarou o temporal como uma advertência, como uma sinal, como uma bronca. Mas não se intimidou... E ao mesmo instante que rompera sua raiva, seu ódio, sua mágoa em prantos, o vento atirava as gotas contra sua janela com tamanha força, que pareciam querer atravessar o vidro e encharcá-la. O que não era necessário, ela não estava do lado de dentro, diferente da tempestade que estava caindo lá fora.
Bell. B

Um comentário:

  1. "... a estrada que leva, também pode ser o caminho para o reencontro..."

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