31 outubro 2013

Bandido


 
Já faz algum tempo que não nos falamos. Na verdade, muito tempo. Eu tento puxar na memória o momento exato da nossa despedida. Imagino aquelas cenas que passam em slow no meio do filme entre a mocinha e o mocinho. (O beijo que dura vinte segundos, o abraço apertado seguido da frase quase simultânea entre o casal... “Não se preocupe, eu voltarei.” Ele entrando num trem com os olhos marejados enquanto ela desmorona em lágrimas ao vê-lo acenar da janela, como se toda sua vida estivesse sendo arrastada por sobre os trilhos como almas acorrentadas que vagam pela Terra a pagar suas dividas por terem levado uma vida desgraçada.) Mas antes que os protagonistas se encontrem no fim, volto à realidade, não estamos em telas que projetam finais felizes, eu não tenho um roteiro nas mãos no qual possa alternar um final que não tenha me deixado feliz. Alias, comecei a perceber que pouca coisa me deixa feliz hoje em dia. E isso tem me intrigado um pouco. Por que... Lembro-me que junto á ti, felicidade era algo que não me faltava. Riamos de tudo, por nada. Até as piadas repetidas me animavam. Talvez porque só você era capaz de contá-las com tanta graça.

Graça... Acho que foi isso que perdi quando você se perdeu de mim. Eu passo horas lendo e relendo nossas conversas, escutando nossas músicas. Puta que pariu as músicas... Ora e outra te vejo sentado na beirada da minha cama. (Seu violão com meu nome cravado, você alternando os dedos entre as cordas e o cigarro, cantando, me encantando a cada nota seguida entre uma frase e um trago.) Essas lembranças atravessam-me como navalhas. E cada lágrima que escorre dos meus olhos, parecem jorrar do meio do meu peito como uma veia perfurada. Eu aperto os olhos, eu praguejo, eu até grito em alto e bom som que te odeio. Mentira deslavada! Eu ainda te amo te amo como se nunca, como se jamais tivesse ido embora. Mesmo depois de tanto tempo, mesmo sem sequer trocarmos mais uma única palavra, ainda te amo. Te amo como te amei há cinco anos atrás e te amarei até que eu não tenha mais noção de tempo pra somar ou somatizar o que os efeitos colaterais da sua ausência me causam.

Eu vou continuar aqui, escrevendo... Vestida com a sua camisa velha surrada. Servindo-me de memórias nossas em doses homeopáticas enquanto fico horas de pé na janela, esperando que aponte no começo da rua e venha se desculpar pela ausência que me massacra. Não, eu não vou te enviar esta carta. Eu não vou te contar (outra vez) como tem sido. Até porque, talvez você nem mais se lembre de mim. Fatalmente eu não fiquei em sua memória, como você por inteiro entranhou-se em mim. E a essa altura, talvez você já esteja amando novamente. Talvez esteja fazendo planos, sendo feliz, vivendo o que eu não fui capaz de nos permitir realizar. Dói demais imaginar você com outra pessoa que não eu. Na verdade dói pra caralho te imaginar com outra pessoa. Mas não posso voltar atrás, faz tempo demais. E não seria justo comigo. Afinal, você nem se despediu. Simplesmente partiu. Partiu-me ao meio quando por si só, decidiu que o melhor seria se afastar de mim. Eu vou continuar aqui, na minha, assim... Calada. Esperando que volte e devolva-me tudo que roubou ao sair. Eu vou continuar aqui... Escutando as nossas músicas, nos vendo nas telas do cinema, nos projetando nos personagens românticos das novelas, nos imaginando nas linhas de um romance qualquer, riscando, rabiscando meus sentimentos, na esperança de que um dia você apareça. Na esperança de que descubra por si só, que embora você tenha decidido partir sem se despedir, é e pra sempre será você, o único e verdadeiro amor que ainda habita em mim.
 Por. Bell.B

Um comentário:

  1. como eu já disse uma vez... "a estrada que leva, é o mesmo caminho do reencontro."

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