
Ficou ali parada, olhando para o visor, pensando nas
possibilidades que o fizera enviar a ela aquela mensagem. Porque depois de
tantos dias ele faria isso? Teve tantas oportunidades antes, da última vez que
se falaram, fora tão frio e estúpido com ela, que por mais que tentasse
encontrar quaisquer resquícios de carinho, não conseguia encaixar no contexto
nenhuma atitude sentimental dele em relação a ela. O que exatamente ele queria
com aquilo? Avisar que queria algo de volta? (O quê?) Notificá-la que não queria mais nada dela em sua nova casa
(nova vida) e que ela fosse buscar
seus pertences que acabaram sem querer, indo com ele na mudança? Testá-la?
Provocá-la? Foder com a vida
dela? Várias possibilidades passaram pela cabeça dela, menos uma... “Estaria com saudades, arrependido, queria
pedir desculpas.” Esta sequer passou-lhe pela cabeça. Fora tão seguro em
suas ultimas linhas, aparentemente tão decidido (seco) no seu último gesto, que embora no fundo de seu coração,
fosse o que realmente esperava depois de tudo, não conseguiu idealizar isso.
Não naquele exato momento. Precisava se
ocupar, não voltaria atrás por nada nesse mundo (ao menos era essa a ideia), e a fim de controlar a sua
curiosidade, segurou a “tecla desligar”
e atirou o celular na gaveta do criado mudo. Sentou-se na cama, e daquele momento
em diante, nada além da vontade absurda de descobrir o que havia no corpo
daquela mensagem a inquietava mais.
Quando estava prestes a resgatar o aparelho do fundo da
gaveta, foi puxada de volta pelo toque do telefone. Seu coração só não saiu
pela boca com o susto, porque ela mordiscava o cantinho do lábio inferior (tirando o tique de mexer compulsivamente
nos cabelos quando nervosa, também mordia o lábio). Assim que atendeu, sentiu-se aliviada. Era
Jonh a convidando para sair. É certo dizer que ao acordar, ele havia sido seu
primeiro pensamento, e rendera-lhe alguns suspiros, mas subitamente as coisas
haviam mudado. E aquilo não era nada bom. A primeira sugestão feita foi
recusada. Por algum motivo que não se sabia qual (sabia-se sim), ela não estava
afim de agitação, pessoas, barulho. Propôs então que fossem apenas jantar. Pra
se verem, se conhecerem mais. Agora ela não queria mais, não mais ele, mas
sair... Mas topou, era a deixa que precisava para não cair em tentação. Pontualmente
no horário marcado, estava ele na portaria. Ela não autorizou a entrada e pediu
ao zelador que dissesse a ele, que em 10 minutos desceria. Por incrível que
pareça, ela já estava pronta. O tempo que pediu, na verdade era pra decidir se
levaria ou não o celular que ainda estava aprisionado na escuridão da gaveta. “Não!” Disse ela olhando para o criado
mudo. “Você não tem esse direito, não vai
fazer isso comigo outra vez, não vai!” Virou-se para o espelho para passar
o batom e se deparou com aquele olhar distante, profundo, marejado de antes. Encarou-se
com firmeza, mas sentiu certo desconforto. Não sucumbiu. Respirou fundo, passou
o batom e saiu.
O encontrou recostado na lateral do carro. Ainda bem que
escolherá um vestido preto clássico porque ele estava muito bem trajado, num
terno perfeitamente ajustado. Estava impecável. Quando foi cumprimenta-lo e fez
sinal com a mão para que ela ficasse parada. Não entendeu muito bem, mas
obedeceu. Lentamente ele deu alguns passos na sua direção, antes que ela
descesse o ultimo degrau. Com os olhos à mediu de cima abaixo, e a encarou por
longos 10 segundos com um sorriso que por mais que tentasse, entregava-lhe
todos os pensamentos. Ela respondeu o olhar sem dizer nada, e ele de imediato
compreendeu a pergunta. “Podemos sim...” Estendeu-lhe
a mão e a conduziu até o carro. No caminho não falaram muito, o que o fez
estranhar, mas não fez quaisquer perguntas que pudessem a desagradar. Não
queria parecer evasivo, embora estivesse como uma vontade enorme de querer
saber o que estava se passando dentro da cabecinha dela. Por mais que sorrisse
ora e outra e respondesse quase monossilábica as suas perguntas casuais, aquele
olhar que encontrou o dele no topo da escada lhe era familiar. Só não conseguia
decifrar de onde. Por fim, chegaram ao restaurante, o gerente os recebeu sem nem
perguntar sobre reservas e gentilmente os conduziu até o local em que
jantariam. O lugar era belíssimo, com decoração colonial, cheio de requintes e
glamour. Passaram por dois saguões,
subiram alguns lances de escada e o gerente então lhes apontou a mesa. Ficava no terraço, supunha ela que aquele lugar fosse o
mais caro. De onde estavam, podiam ver a cidade inteira. Quem conseguiria
encontrar vontade de comer com uma vista tão bela quanto aquela? Ele dispensou
o metre e puxou a cadeira para que ela se senta-se. “Por favor...”. Ela sentou-se, em seguida ele, e imediatamente o
garçom surgiu, perguntando o que queriam para beber. Pra ele, pediu um vinho
tinto, e antes que ela fizesse seu pedido, antecipou-se pedindo uma coca-cola
gelada com gelo separado. Ela sorriu...
“Sei que não curte etílicos, e imagino
que não abrirá exceções, rs. Pedi certo não?” Entrelaçou os dedos nos
cabelos, jogou-os de lado e consentiu. “Batas?”
Arrancou-lhe mais um sorriso a pergunta. “Hoje
não... acompanharei você em seu pedido. Salada?” Agora quem sorriu foi ele.
“Você me parece um pouco inquieta, tudo
bem?” Relutou por vários momentos em fazer a pergunta, mas a distração dela
e a tensão eram tamanha que não resistiu. “Não
é nada, só um pouco cansada.” Qualquer pessoa, até mesmo ele, que não a
conhecia intimamente, conseguiria captar a ocultação da verdade naquela frase.
Mas se insistisse, talvez estragasse o encontro e esse não era o plano.
Conversaram sobre coisas rotineiras, casuais e a entrada veio, depois o prato
principal, e por fim a sobremesa. Ela tinha conseguido se concentrar neles, a
angustia das horas anteriores passará. Ele era uma companhia agradabilíssima,
divertida. Era um homem inteligente, qualquer garota desejaria estar com ele,
ainda que não tivesse as demais qualidades por só ser lindo. Acontece que isso
era um forte atrativo, porém, não pra ela. As coisas que ela buscava no sexo
oposto, iam muito além da beleza física. E até o momento, ele parecia preencher
os requisitos necessários para talvez, dar o ponta pé inicial na conquista. Mas
ainda assim, alguma a coisa a distraia. E ele perceberá que ela não estava cem
por cento com ele, como no outro dia. Ele de alguma forma, estava ficando meio
incomodado, talvez tenha dito ou feito algo que a desagradará. (Mas o que?) Quando enfim tomou coragem
para perguntar, o celular dele tocou.
Foi o que bastou pra ela se ver novamente de pé na frente do criado,
atirando o celular na gaveta.
Um nó lhe subiu a garganta, os olhos dela congelaram. Queria
sair correndo dali e ir para casa descobrir definitivamente o que “ele” queria. Mas não queria chateá-lo.
Não queria deixar transparecer ainda mais sua aflição. Mas infelizmente não conseguiu.
Ele não atendeu a ligação, se precipitou dizendo que era trabalho. (como se ela fosse perguntar quem era... imagina)
Mas ela não estava nem um pouco preocupada em saber quem tinha ligado pra ela,
a única coisa que ela queria de fato, era saber o que estava escrito naquela
mensagem que ficou aprisionada em seu quarto como um refém ansioso a ser
libertado. Conclui que era assim que ela estava se sentindo. Como uma refém. E
isso era tão injusto com ela, com ele. Afinal, até aquele momento, ele estava
sendo a melhor coisa que acontecerá a ela nos últimos dias. Por esse motivo,
sentiu-se ainda pior. E por ser justa, explicou a ele exatamente o que estava
acontecendo com ela. Ele gentilmente a ouviu ficaram ali por mais algumas horas
e inexplicavelmente a conversa degringolou. Ora e outra ele segurava na mão
dela para consolá-la, fazia algumas gracinhas em momentos oportunos, e isso a
fazia sorrir. Ela sentiu-se tão mais aliviada e ainda mais quando ele confessou
também estar saído de uma relação conturbada. Pronto... agora tinham mais isso
em comum. Seria ela na ligação? Afirmou ele mais adiante na conversa que não.
Enfim... Ele a levou pra casa, ela agradeceu pela noite maravilhosa e ao se despedirem,
ele tentou beijá-la. Seria justo. Mas ela recuou e delicadamente virando o
rosto, os lábios dele encontraram sua face. Ele a abraçou apertado, como quem
não a fosse soltar nunca mais. Ela sentiu-se segura naquele momento. Mas
momentos seguros passam, e ela era a maior prova viva desta conclusão. Ele
disse que ligaria, ela consentiu e se despediram assim. Apenas como bons
amigos.
Assim que abriu a porta, entrou e foi direto para o
quarto. Resgatou o refém. Mas ela ainda se sentia acuada. Estava com raiva.
Muita raiva. Ele quase tinha estragado sua noite e de alguma maneira, estava destruindo
seus planos. Como é que ele ousava fazer isso com ela depois de tudo? Saíra com
outra mulher sem ao menos terminar com ela, mesmo que não estivessem mais
juntos, a sensação era de que tinha sido traída naquela noite. A imagem daquela
mulher na casa dele a partira em milhares de pedaços. Depois se não bastasse,
ele responderá sua carta com tamanha frieza que qualquer fragmento de esperança
se dissipou como se nunca tivessem tido nada. E a chave? O suspiro de vida que
entre eles que ele ao devolver, abafará não deixando a ela qualquer dúvida de
que de fato, agora acabará. “Odeio
você...” Praguejou olhando para tela do celular apagada. Sentiu ainda mais
raiva ao se lembrar dos últimos acontecimentos e se sentiu fraca. Porque diabos não cedeu aos encantos,
porque não se atirou aos braços e beijou Jonh? Tinha certeza do que leria,
certamente ele estaria cobrando algo que deixará com ela, ou querendo que ela
fosse buscar o que de direito era dela em sua casa. Ligou o celular e tomou
coragem, e pra sua surpresa, o que estava no corpo daquela mensagem, era a
possibilidade que ela inicialmente descartará. Aquilo a deixou confusa, talvez até meio
abalada. Porque ele estava fazendo isso com ela? A tal garota cantora o
deixará? O que exatamente ele queria com aquilo? Já passará por um momento
parecido, alias, vários. Ele fazia e desfazia e ela o perdoava. Era a hora de
parar com isso? De dar de vez um basta? Ela não sabia o que fazer, precisava
digerir aquelas palavras. Esperaria... Esperaria a hora certa de tomar uma
atitude, não queria se precipitar e quebrar mais uma vez a cara.
Por. Bell.B