04 agosto 2014

Velho (Des)conhecido Prt II



Apagou os faróis, as luzes de mercúrio já estavam acesas. Tirou o pé do acelerador e à medida que ia se aproximando lentamente da casa, seu coração disparava. Estacionou. As duas mãos seguravam firmemente o volante, o ar parecia não alcançar os pulmões, a perna esquerda sofria espasmos... (A sensação que tinha era de que estava passando por um “exame de direção”). Apanhou o cel do banco, olhou mais uma vez para a mensagem e encarou o portão. Aquelas palavras a tinham levado até lá. Elas haviam lhe aberto um brecha. Seria uma? Ele realmente queria uma reaproximação, estaria sentindo a falta dela? Ou teria sido involuntariamente um teste. Direcionou o rosto para a entrada da casa. Silêncio, nem mesmo uma meia luz, nada que sinalizasse presença. Respirou fundo e devagar foi escorregando as mãos do volante. Milhares de imagens, momentos, sentimentos rodopiaram em sua cabeça. “Meu Deus, o que estou fazendo aqui!?”. De fato, o que estava fazendo ali? Porque não ligou antes, porque não respondeu o sms antes de ir até lá? Há muito não se falavam, sequer sabia de sua vida, se tinha uma nova rotina, se estava com alguém, se estava trabalhando, se estava estudando, se tinha qualquer outra coisa pra fazer. Divagar era bobagem. Agora já estava na porta da casa dele, era entrar ou entrar. Ela não era mulher de recuar, de perder tempo, de deixar suas vontades ou desejos serem dominadas pelo medo. (Tudo bem, algumas de suas regras mais valiosas não seguiam a risca, não com ele. E ela detestava isso, na verdade ela se detestava por isso! Porque sabia que além dela, ele também sabia disso. O que ela não sabia ao menos até aquele momento, era que esta fraqueza ainda valia.)

O digital no painel marcava 18h40min. Apertou os olhos, respirou e desceu do carro. Passou pelo portão e ao chegar à porta suas pernas começaram a tremer, pensou em procurar pela chave, quem sabe ainda estivesse no vaso de pimentas. (Não, claro que não. Ou sim, mas não pra ela) Por duas vezes levantou a mão em menção de bater na porta. Mas quase... (e se estivesse com alguém, e se este alguém fosse uma garota? Assim que pensou nisto, cerrou o punho com força. Sequer estavam juntos, alias, há tanto tempo não se viam, se falavam. Seria natural, normal se estivesse se tivesse alguém. (normal o caralho) Uallll! Ela havia se irritado. Então a “ideia” de que tinha acabado, de que tinha passado, passou. Ainda existia algo dele, dentro dela) ... Não bateu, não tocou a campainha, não chamou, e talvez se quisesse, naquele momento sua voz não sairia. Oito minutos ali, de pé. Nenhum ruído, nada vinha de lá de dentro, nada que a impulsionasse ou a encorajasse a enfim, se fazer notar ali, do lado de fora. Começava agora a ser consumida pela agonia. Sua coragem, toda aquela determinação em ir de encontro a ele havia sumido. Estava travada, completamente catatônica. Agora não ia nem vinha. Talvez se um meteoro caísse do outro lado da rua, a única coisa que permaneceria de pé intacta seria ela. Precisava se posicionar, agir, mas o que diria? E se não fosse ele a recebê-la, e se não fosse ele a vir abrir aquela porta?! Precisava bater, tocar, pensou em voltar pro carro e ir embora, mas naquela altura, a curiosidade era maior do que o medo. E mesmo assombrada pelo receio, pelo medo decidiu peitar o assustador “se” e encarar seu velho (des)conhecido. Apanhou o cel e clicando em cima da mensagem dele, respirando fundo respondeu... “esta em casa?”.
Por. Bell.B

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