21 novembro 2013

Intoxicated


Assim como suas vistas, as letras estavam completamente borradas. Tirando as inúmeras partículas de água que gotejavam de seus olhos sobre o papel enquanto escrevia, havia rasuras por todos os lados. Não havia uma linha sequer que não tivesse uma palavra rabiscada. Ora a palavra "amor" era substituída pela palavra "ódio", ora atropelava a frase toda com a ponta da caneta com tanta força que entre uma linha e outra era possível se ver o fundo da mesa. Estava transtornada, possuída, num estagio de cólera talvez... Talvez não. Era certeza! Todas as suas emoções se encontravam num caos completo. Ao que tentava reordenar os pensamentos e se recompor, mais uma folha era arrancada do caderno e amassada, sendo atirada ao longe, batendo contra as demais formando uma montanha no canto da parede.

Aquele acumulo de sentimentos era-lhe muito familiar. Parecia estar projetando suas emoções de dentro pra fora (e era o que aquela pilha enorme de papeis representava). Era absurdo como depois de tanto tempo, sozinha, ainda continuava sentindo "tanto" por ele. E sinceramente, ele não merecia. Ele não merece nada que dirá tanto amor, tanto ódio, tanto... Eram tantas as emoções, as sensações, os sentimentos, que seu coração não parecia compatível com seu peito. Cada lembrança acelerava seus batimentos cardíacos como uma arritmia. Cada foto, cada frase, cada momento lhe causa tamanho desconforto, que por mais que tentasse respirar, o ar parecia não entrar. Suas vias, todas... Pareciam congestionadas. As vistas se turvavam, o estômago revirava, as mãos tremiam (e provavelmente a essa hora, enquanto ela se encontrava nessa demolição mental/sentimental, o filho da puta provavelmente dormia, ou aproveitava seu tempo por ai, sem sequer saber ou fazer ideia do quanto sua ausência a devastava, o quanto esse afastamento brutal sem justificativas violentava sua alma). Alguma coisa estava parada no meio da sua garganta parecendo querer sufocá-la. Rapidamente vasculhou a memória tentando se lembrar do que almoçará. Teria sido envenenada? Foi quando se lembrou, há dias não comia nada. Mantinha-se num jejum rigoroso (café e cigarro). Não fora envenenada porra nenhuma. Não por algo rapidamente letal ou alguém, alias, estava sim envenenada. (Há muito dizem, dizem não! Está provado que aquela “porcariazinha” à qual ela recorria descontroladamente quando não conseguia resolver, solucionar ou entender algo em sua vida, que aparentemente parece inofensiva, contem nada mais nada menos que gases tóxicos, amônia, cianeto, ácido levulínico, acetato de chumbo, e vários outros componentes altamente letais). Mas o veneno que a intoxicava/intoxica, que lhe percorria/percorre as veias fazendo-a em alguns momentos perder a razão, os sentidos, era outro. E talvez tão fatal quanto esta soma química bombástica que logo mais (talvez) certamente será dada como a maior culpada pela sua ausência, (apagando todo e qualquer vestígio de uma vida doente e apaixonada, platônica e não correspondida) entre seus entes queridos.

Mas não hoje, hoje não. Ela ainda não está pronta e talvez jamais esteja. Além domais, não poderia partir, não assim, sem dar seu ultimo Adeus, sem saber dos "porquês" dele, sem saber dele. Se fosse desta forma, certamente não seria de fato o fim, pois continuaria noutra vida, como permanece nesta aqui... Vagando, penando, precisando de um grande motivo para enfim... Partir!
Bell.B

Um comentário:

  1. Se quer mesmo saber dos porques venha e pergunte. Oras.

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