07 maio 2015

Restinho




Encontrei sua camisa preferida enquanto arrumava a bagunça que a gente deixou. Foi o primeiro sinal que reparei de que você continuaria aqui, me arrastando prum punhado de lembrança chata, típico de relacionamento que acaba. Achei que quando você partisse seria fácil porque, sei lá, achei que a gente ia se acostumando. Mas tem sempre alguma coisa de triste, acredito eu, em alguém que vai. Pelo menos pro outro que fica. Encontrei nossas músicas preferidas gravadas nas minhas memórias, sem pretensão alguma de sair. E fui cantarolando nós dois enquanto colocava meu quarto no lugar, numa tentativa de colocar a vida no eixo, numa tentativa de te tirar de mim. Como se arrancar alguém fosse prático como limpar o quarto. Não é novidade que falhei em me limpar de você.

Ainda na cama, meio quente, daquelas coisas que acabaram de ser largadas, achei o cafuné que você me fazia antes de dormir. E pensei: como é que a gente se acostuma à ausência? Como é que eu vou me acostumar sem você? E as aulas de história que você dava quando eu não sabia sobre algum assunto, e as mensagens simples que cê me mandava às 15h30 quando sabia que eu só queria que o dia terminasse. E todo dia você fazia questão de me ver bem. Tirando o dia que você me deixou.
Eu não achei que era amor. Digo, eu falaria de amor em outros textos, colocaria amor em outras histórias. Mas não com você. Achei que com a gente tinha passado longe disso. Era paixão. Achei que tinha companheirismo, amizade, filme cult, uns porres loucos no meio da semana de trabalho e tesão. Se me perguntassem de você, eu não falaria das coisas estranhas que o coração faz a gente fazer. Eu diria apenas o quanto meu corpo procurava o seu nas noites frias. Ou do quanto meu corpo ainda te procura.
E, para a minha surpresa, de todas as coisas que você deixou, é justamente aquele restinho de amor no canto do quarto, que eu nem sabia que estava lá, que eu mais queria que você tivesse levado. Porque, porra cara, o problema do amor é quando ele resolve ficar mesmo depois de tudo já ter acabado.
Por. Karine Rosa

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