27 julho 2013

Último Beijo


Fim das férias... Tinha terminado de fazer às malas, deu uma ultima olhada em volta, tudo pronto para voltar pra casa. Faltava agora, arrumar coragem para descer e arrumá-las no porta-malas do carro. E a coragem, definitivamente lhe faltava por vários motivos. Sabia que a 45 quilômetros de onde estava às coisas seriam muito diferentes do “agora” que se encontrava. (Horários, agendas, compromissos... a rotina desgastante e pesada) Bufou, puxou o ar e depois de trancar as portas desceu. Enquanto colocava as malas no carro, o vento soprava com tamanha força, que quase poderia empurrá-la. Os cabelos chicoteavam seu rosto irritantemente, mas as chicotadas não eram mais doloridas do que o frio que cortava seus lábios e avermelhavam as maçãs de seu rosto, assim como também, a pontinha do seu nariz. Praguejou antes de fechar a mala do carro e seguir de volta pra casa. Deu a partida e saiu.

Já estava no meio do caminho quando a chuva apertou e devido ao barulho da chuva e “também” do som alto dentro do carro, não ouviu o “bip de mensagens”. Mas por algum motivo, resolveu parar o carro no acostamento e apanhar o celular. (2 mensagens) Conforme o sorriso foi se estendendo, sentiu o coração bater acelerado. Apertou “ver”... (Coisa rara era ver aquela mulher sorrir pela manhã, no inverno, num dia frio e chuvoso, no transito ... Mas ele tinha esse dom, ou essa petulância (ela não sabe discernir). Ele conseguia desorganizá-la, desmontá-la, bagunçá-la como ele prefere dizer. Ele conseguia mudar a ordem dos fatores, fazia ela quebrar protocolos e isso a deixava tão irritada quanto estonteantemente feliz). Duas frases, poucas palavras, mas tão ricas em sentimentos, que se perdeu no tempo por alguns minutos e só voltou a si quando ouviu a sirena de uma ambulância soando irritantemente para abrir passagem. Ficou extremamente irritada, acabará de ser puxada de momentos que “não mais viveria...Não!?” (soltou meia dúzia de palavrões carregados de raiva) sem a menor necessidade, afinal, já estava encostada. Respirou um pouco mais de vagar agora, colocou o celular no banco do carona e deu partida. Estava atrasada (e quando não estava?), a viagem seguiu tranquila e já próxima de casa, talvez guiada pela saudade, pela falta, pelas 2 mensagens, mudou a rota (Já estava mesmo atrasada... foda-se, pensou).

O dia estava cada vez mais feio, o clima típico ao que ela simplesmente odiava, mas por alguma razão, motivo, ou circunstância, sua feição estava definitivamente quebrando seus protocolos pessoais. A placa sinalizava 20Km/h, ela deveria estar a 10Km/h. E quanto mais se aproximava do portão, mais seu peito parecia comprimir seus pulmões. Enfim... o jardim estava lindo embora não florido. O portão pintado, a faixada toda em ordem, uma luz ao fundo da janela podia ser vista acesa. (Era a luz da cozinha, conhecia cada faixo de luz, fosse de lâmpadas ou de raios de sol, refletidas naquelas paredes. Viverá seus melhores dias naquele lugar. Era simples, não tinha luxo, muito diferente do seu Ap, que perto daquela simples casa, sequer poderia ser chamado de lar. Depois de ter vivido ali, qualquer casa, era só uma casa, e como isso lhe pesava...) Precisava sair dali, antes que fosse tomada pelos seus impulsos incontroláveis de agir. Imagina tocar a campainha e pedir para adentrar. Pedir? De certo invadiria aquele lugar e expulsaria a todos sem pensar e certamente seria presa. Tomou as rédeas dos seus sentidos e... Seguiu seu destino.

Entrou com o carro na garagem, cumprimentou o zelador e pediu que lhe fizesse o favor de em seguida subir com suas malas. Ele estava ao interfone mas fez sinal de que queria lhe falar (não esperou). Ela estava apressada, o elevador estava no térreo, entrou e subiu.  Abriu a porta do elevador e se deparou com algo completamente desconhecido. Um nó lhe subiu a garganta e ela apertou tanto os olhos para enxergar que acabou sentindo vertigens. Virou-se rapidamente para o lugar secreto e já estava em prece antes mesmo de tatear. (Tocou a chave, estava lá, no mesmo lugar) “Mas que Diabos”, pensou ela enfurecida. Quem roubaria um tapete e deixaria outro no lugar?! Abriu a porta com tudo e quando entrou na cozinha para apanhar o interfone e reclamar, visualizou-o no varal. Não conseguiu colocar o interfone no gancho, sem forças recostou as costas na parede e esmoreceu deslizando. Cruzou os braços sobre os joelhos apoiando a cabeça sobre e desta vez o ar pareceu sair com tamanha força, que quase que lhe estoura os pulmões.

“Sua idiota, porque caralho ele viria até aqui, pegar um tapete de volta??? É claro que ela tinha várias respostas para a pergunta que se fez, mas levando em consideração o que viveram, o que tinham, o que tem, isso seria tecnicamente impossível. Ele não seria mesquinho assim, não como era ela, que queimava, jogava, sumia com tudo nos seus momentos de raiva. E ele também não era idiota, porque tiraria dela, parte de sua história. Mas por alguns segundos, pensou, pensou que ele havia estado ali e levado o tapete embora (antes é claro, de ter pensado que alguém roubará) Encostou a cabeça na parede, mirou aquelas borboletas no alto e se deu conta do quão para baixo estava, do quão pequena era ela, perto da imensidão de PAZ que ele lhe dava.”

Levantou-se de vagar, apanhou o interfone que estava pendurado e o colocou no lugar. Ao se por de pé, pode ver um bilhete sobre a mesinha da cozinha. “Lavei os tapetes e as cortinas. A chave esta na portaria.” No meio do emaranhado de emoções que se encontrava, sorrio aliviada. Tinha sido a moça da limpeza. Voltou, fechou a porta, jogou as chaves no aparo da sala e se atirou no sofá. Podia ver as micropartículas esvoaçarem pelo cômodo, a janela estava descoberta e a claridade evadia toda a sala. Pensou em ligar a TV, o som, tomar banho, mas ao invés disso, não fez foi é nada. Estava alienada, como se não soubesse de certo onde estava. Foi quando fixou os olhos no porta-retratos no canto do sofá. Esguiou-se, esticou o braço e o apanhou.  Virou-o soltou as travinhas e abriu. Olhando para aqueles olhos brilhantes sorriu... (graças a Deus eu não achei esta naquele dia)... Continuou olhando para a foto dele. Todo sério, como quem encara alguém propositalmente fazendo tipo. Ela encostou a ponta do nariz na ponta do nariz dele por alguns segundos e voltou a olhar a foto. Queria entender em que exato ponto nos perdemos, aonde erramos. São tantas as coisas que faltaram dizer, que precisavam ser ditas de novo. Como “eu te amo”. Porque porradocaralho não te ligo? Você não me liga? Porque não estamos juntos, porque não nos separamos? (rosnou para a foto fazendo careta)”puta que pariu como eu te amo”. Estava tão concentrada na DR com a foto dele, que até o perfume dele, estava sentindo no ar. Parecia que ele estava lá. Suspirou fundo, e quando uma lágrima atrevida cortou seu rosto, mais uma vez ela aproximou a foto do peito e antes de volta-la a seu lugar seguro, tocou seus lábios nos lábios dele selando em segredo, seu sentimento mais profundo.

Em seguida voltou tudo ao seu lugar, e já no banho, tocou lentamente seus lábios, deslizando os dedos no contorno. Sentia algo diferente, estranho. Parecia de fato tê-lo beijado a minutos atrás, mas desta vez a sensação passava de um breve até logo. Teria sido esse beijo, o beijo que faltava para enfim, dar-se o tão protelado fim? Teria sido preenchido o beijo que não deram no meio de várias brigas? Seria esse o não esperado, último beijo de despedida? Não... Não poderia ser. Certamente estava embriagada pelas emoções, confusa por suas novas razões, atormentada. Nunca falaram em despedidas e fins, não seria assim, sozinha, tomada por sensações desconhecidas que decidiria. Não sem ele, não sem vê-lo, sem ouvi-lo. Daria um jeito nisso... E o faria, o mais breve possível. 
Por. Bell.B

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