27 julho 2012

Foda-Se

Que se fodam as rosas.
Uma vez, outras me disseram que me amavam. Uma vez.

Nunca na vida isto chegou perto de ser verdade. Sabe porque? O amor simplesmente não existe. Nada mais é do que um amontoado de reações químicas simultâneas que te fazem pensar que você precisa de outro ser vivo que não seja você. O amor não é nada mais que a ação de meia dúzia de moléculas, feromônios que ativam o desejo de cópula não mais do que momentâneo. O amor nada mais é do que uma tradução bizarra e absurda de um simples mecanismo evolutivo feito para que os machos e fêmeas da espécie humana fiquem juntos tempo o suficiente para que a prole advinda da cópula seja criada, alimentada e ensinada a ponto de sobreviver sozinha. O amor não passa de um trânsito desordenado de neurotransmissores levando a informação errada para o lugar errado, disparando cascatas de sinalização celulares capazes de emburrecer e tornar um organismo egoísta e independente um ser dependente de contato, toque, atenção e, principalmente, mais daquela droga em forma de sentimento, o amor.

Amor não existe. Eu me convenci disto da primeira vez que tive meus sonhos destruídos.

Tudo o que você produz, todos os pensamentos e energias que você redireciona para um só ser que não é você, todo o esforço gasto para mendigar mais alguns milésimos de atenção, tudo aquilo que você inutilmente faz para chamar a atenção da pessoa que você ama, cada maldito e infeliz centímetro que você gasta se deslocando da segurança e conforto da sua casa em busca de mais um modo de criar algo ínfimo e ridículo, mas que seja o suficientemente capaz de causar a curvatura momentânea nos lábios do objeto de seu desejo. Tudo isto não passa de um esforço inútil, uma inutilidade biológica, um absurdo etológico. É a suspensão e o sacrifício de todas as faculdades mentais capazes de gerar em cada um de nós o mínimo de bom senso necessário para perceber que não há alma neste mundo que valha mais do que a sua. Tudo isto é uma forma estranha e cruel de auto-flagelação, um constante torturar-se, um infinito processo masoquista de busca incessante e improdutiva de conseguir se fazer feliz por meio da felicidade de outro.

A cada vez que eu desistia, um novo amor me aparecia. E eu me agarrava a esta oportunidade como um doente terminal a uma cura fantástica.

O problema está justamente em acreditar que um novo amor pode curar o antigo. Basta dizer que a velha frase “Tudo passa” é uma lei tão certa quanto a certeza única e inegável de que vamos morrer todos um dia. O amor um dia sempre acaba, e ele tem a infeliz capacidade de gerar sentimentos tão negros e nefastos quando vai embora que deveria ser necessário que cada um de nós tomasse uma dose amarga de consciência injetada nas veias após cada copo doce e fatal de amor. O saldo nunca é positivo, as coisas sempre terminam da maneira mais terrível para um dos lados, e de uma maneira um pouco menos pior pro outro. Sempre quem sai perdendo é aquele que ainda ama, e quem já não ama mais precisa suportar o fluxo constante de sentimento que ainda cai sobre ele, mas que é desperdiçado e jogado no chão, como restos podres de algo que um dia fora bom, nutritivo, capaz de deixar algo ou alguém feliz. O amor sempre sobra, e quando amargura passando da validade, vira ódio, raiva, tristeza, depressão e, sobretudo, sofrimento, que marca fundo em cada um feridas no coração que jamais cicatrizam.

O meu problema era achar que a cada novo amor, esse amor seria o anjo que me resgataria. Só que eu esqueci que anjos não causam tentação.

Anjos não existem. Nada virá te salvar quando você estiver solitário e desesperado, pedindo por uma mão, por um pedaço mísero que seja de atenção. Nada virá te socorrer, a não ser aquela torrente maligna de sentimentos vis que sempre retornam. Tu só encontras como abrigo para a tempestade de dor que castiga sua vida um punhado podre e entorpecido de  sentimentos, recorrentes e astutamente preparados para lhe acudir quando você mais precisa de qualquer outra coisa, menos deles. Dessa maneira, o que parecia ser apenas o fundo de um poço se revela um túnel cada vez maior e mais largo. Ele vai cada vez mais fundo, mergulhando em águas de desespero que você jamais achou que pudesse ser capaz de respirar dentro, e cada vez mais capaz de comportar teus medos, inseguranças, decepções e amores perdidos. A bagagem de sofrimento apenas aumenta, e o peso sobre você é tamanho que você desfalece e cai, juntando-se a uma multidão de corpos como os seus, abandonados e esquecidos pela dor da perda de um amor tão falso quanto as promessas de salvação que eles traziam consigo.

Dessa forma, eu sofri o que ninguém jamais acha que vai sofrer. E demorei a aprender a lição.

As pessoas demoram a aprender uma lição, seja ela qual for. O amor não existe, é um esforço inútil, um saldo eternamente negativo, uma esperança vã e ilusória. Não adianta esperar que em seu jardim cresçam rosas quando você só vê pragas, ervas daninhas e terra seca e estéril. O máximo que conseguirá serão flores conspurcadas, irônicas, zombeteiras com seus fracassos, apenas te lembrando que você nada mais faz a não ser vender mais um pedaço da sua alma em busca de mais uma tentativa de salvação, e acaba por perdê-lo nas mãos do seu mais novo “amor”. Quando você ama, você se dá a alguém, um pedaço seu fica com a outra pessoa. Esse pedaço é irrecuperável, e faz você ver, depois de muito tempo, o quanto perdeu durante o tempo apaixonado. Teu reflexo no espelho se distorce, você se torna irreconhecível. Por fim, o que você achava que era um jardim não passa de um duro solo de cimento frio, seco e estéril, assim como seu coração. Assim como seus sentimentos. Assim como sua vida. Não há ninguém para ouvir seu choro. Ninguém se importará se você sofrer. Amor não existe. Ele nunca virá para te salvar. Todos viemos para este mundo sozinhos, e é sozinhos que partiremos, sem chance de ser diferente. Caso contrário, chegaríamos com alguém do nosso lado, mas isto nunca aconteceu. Não acontece. E não vai aparecer.

Cabe a você apenas esquecer o que aconteceu. Fechar seu coração, enegrecê-lo, torna-lo gélido e inacessível, para que nunca mais caia no mesmo erro de antes.

Foi o que eu fiz. Abandonei de vez a sucessão de falhas que era minha vida.
Amá-la era perda de tempo. Amá-la era dor. Que se abram as portas de uma nova vida, sem mais fracassos e esperanças malignas. E que se fodam as rosas, eu não preciso de amor.
Extraído do Blog - Insanidade Consentida


Nota Pessoal: Posteriormente escrevi sobre as infinitas possibilidades que "acreditamos" existir, devido aos "supostos" sentimentos que dedicam a nós ou nós dedicamos a alguém. Ok... ASSUMO! Estou agora me contradizendo e indo pela primeira vez, contra todos os princípios que passei grande parte da vida nutrindo e acreditando! FODA-SE... eu não preciso de AMOR.
Por. Bell.B

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